quarta-feira, 25 de outubro de 2017

Aos velhos e aos novos - Vamos discutir a UFSC



Na UFSC, uma das grandes batalhas que sempre travamos foi a da autonomia universitária. Garanti-la durante os momentos mais cruciais sempre foi cimento para unificações – no geral complexas  - entre técnicos, professores e estudantes. Autonomia na sala de aula, autonomia administrativa, autonomia política. Claro que sempre alinhada às grandes políticas traçadas pelo estado, afinal a universidade é uma instituição pública.

Nunca foi fácil caminhar por esse caminho de autonomia. Primeiro porque quase sempre tivemos reitores visceralmente atrelados politicamente às políticas conservadoras dos governos de plantão. Ainda assim, quando do interesse dos gestores, a autonomia era chamada. No geral, assim, obedecendo a esse uso instrumental. Quantas batalhas perdemos nós, trabalhadores e estudantes, porque os administradores não quiseram usar do princípio da autonomia, e quantas outras perdemos porque eles arrogaram autonomia? Os que estão na UFSC por mais tempo sabem disso.

É por isso que seguimos lutando pela tal autonomia. Mas entendemos que ela deva ser praticada para servir aos interesses da maioria da população, que é quem usa e sustenta a universidade. Sabemos também que isso só vamos conseguir quanto tivermos uma administração alinhada com as grandes lutas nacionais por transformação. Infelizmente na UFSC temos tido administrações conservadoras, no mais das vezes alinhada com o mercado capitalista.

Durante a gestão de Roselane/Lucia, vivenciamos um momento estranho. Houve um afã desenfreado de processos contra trabalhadores, mais de 500, muitos deles sem qualquer fundamento, sob a alegação de que a UFSC estava sob a fiscalização cerrada de outros órgãos federais. E houve uma questão em particular que acendeu a luz vermelha dessa relação de submissão da instituição ao Ministério Público.  Foi a imposição do ponto para os técnico-administrativos. Segundo a reitora, o MP estava pressionando e a UFSC iria acatar, sem levar em conta a sua autonomia. Na época, sugerimos à reitora que trouxesse os membros do MP à UFSC para explicar como a instituição funcionava, como ela não era uma fábrica de salsichas e como não podia ter as mesmas regras. Sugerimos também uma proposta autônoma e adequada ao papel da universidade sobre como controlar o ponto dos trabalhadores. Não teve jeito. A reitoria assumiu a reprimenda do MP e impôs a folha-ponto.

O que precisa ficar claro para a sociedade é que ninguém aqui está dizendo que a universidade não deve se submeter a controle. Ela tem sim que estar sob controle da sociedade e existem mecanismos para isso. Mecanismos que são usados o tempo todo. Poucas instituições são tão controladas como a universidade. Se estouram alguns escândalos de desvio de verbas, podem apostar que estão sob o comando das fundações, porque essas sim estão livres e não prestam contas com rigor. As fundações são empresas privadas dentro da universidade, configurando uma excrescência que poucos têm a coragem de discutir. Durante o mandato dos TAEs Livres no Conselho Universitário bem que tentamos trazer um mínimo de transparência para as contas. Esbarramos na sempre subserviente relação entre os professores e as fundações. Avançamos pouco. Nossa proposta sempre foi pelo fim das fundações dentro das universidades, mas o próprio presidente Lula as legalizou.

Voltando a autonomia, a universidade poderia sim evocá-la para discutir com qualquer outro órgão federal. Um reitor ou reitora que realmente conhece e defende a instituição não deve ter medo de dialogar e apresentar os argumentos sobre como está fazendo seu trabalho. Enfrenta MP, enfrenta tribunal de Contas, enfrenta Controladora Geral da União. Chama para conhecer, mostra as diferenças, abre as contas, abre todos os “cofres”. Transparência e firmeza. Com isso pode-se ir conversando e encontrando caminhos.

O que não dá é para temer.

Compreendo que o que aconteceu com o Cancellier possa colocar medo nas pessoas. Se ele, sendo um homem do sistema e um conciliador, passou o que passou, o que não poderia passar àquele ou àquela que decide enfrentar com autonomia esses setores que hoje assomam com tanta empáfia, arrogância e intolerância? Não deve ser fácil arriscar ser preso por um jovenzinho pseudo-calvinista por não cumprir uma determinação imposta pelo desconhecimento.

Mas, apesar de toda essa treva que se abate sobre o país, é preciso resistir. Nossa UFSC precisa de uma administração sem medo, capaz de apontar o caminho da resistência. O Cau foi tomado de surpresa. Ele não teve chance. Não sei se ele enfrentaria, mas o fato é que não teve chance. Foi arrancado de casa e impedido de entrar na universidade. Sofreu humilhações e ficou impedido de fazer contato com seus colegas da UFSC.  Nessa hora faltou mesmo liderança. Ninguém do grupo da administração assomou levantando a bandeira da autonomia. Nem seus correligionários. Ficou um estupor. Nossas entidades sindicais internas estão mortas. Não se moveram. Os estudantes tampouco.
Então o reitor se matou. E isso abriu os olhos de alguns.

Começou uma movida, ainda muito burocrática. Denúncia do estado de exceção, pedido de justiça. Mas nenhuma ação massiva da comunidade. A vida segue nos departamentos, nos centros, como se nada fosse com a gente.

Agora, mais essa. A nova reitora em exercício se rende aos órgãos de fora. Desfaz um ato administrativo que buscava esclarecer denúncias sobre o corregedor. Atropelos, titubeios, medo. Não é disso que a UFSC precisa.

Os técnico-administrativos vão realizar um encontro auto-convocado nessa quinta-feira, dia 26 de outubro, às 9h e 30min, no Hall da reitoria. Chamamos todos e todas. Os velhos, que já se aposentaram, os novos que aí estão, atônitos diante de tudo. É tempo de retomarmos o protagonismo que sempre tivemos sobre os grandes temas da UFSC. Os trabalhadores fazem a UFSC. É hora de encontrar caminhos coletivos que fortaleçam nossa universidade e que permitam assomar propostas de autonomia e bom-governo.


Sem medo, avante! TAEs, vamos dizer nossa palavra.  


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