segunda-feira, 1 de agosto de 2016

Oposição surpreende e obtém quase 40% dos votos na eleição da Fenaj



Por Pedro Pomar  - jornalista
A oposição combativa à direção da Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) voltou a crescer na última eleição, realizada nos dias 19, 20 e 21 de julho. A Chapa 2 “Hora de Reagir”, de oposição, conquistou 39,28% dos votos válidos (1.544), contra 58,51% dos votos válidos recebidos pela Chapa 1 “Sou Fenaj”, de situação (2.300). Este foi o melhor resultado obtido nas duas últimas décadas pela oposição, cuja votação tem crescido a cada pleito: de apenas 24% em 2007, subiu para 32% em 2010, alcançando 36% em 2013.

Filiada à CUT, a Fenaj é a única federação nacional a realizar eleição direta para sua direção: todo jornalista sindicalizado e em dia pode votar. Porém, o grupo que dirige a entidade — politicamente heterogêneo porque constituído por setores de vários partidos de esquerda e até por sindicalistas tradicionais considerados pelegos — encastelou-se ali há mais de duas décadas, mantendo uma postura burocrática e distanciada das lutas concretas da categoria.

A eleição contou com a participação efetiva das bases de 30 dos 31 sindicatos de jornalistas filiados à Fenaj. Apenas o Sindicato dos Jornalistas do Amapá ausentou-se, enquanto o Sindicato dos Jornalistas do Maranhão, que havia se retirado da federação, voltou a participar nesta eleição. Apesar disso, compareceram às urnas apenas 3.997 jornalistas (43% dos aptos a votar), sendo que os votos válidos foram 3.931.

Os números baixos — para uma categoria profissional que reúne, em nosso país, dezenas de milhares de trabalhadores em atividade — refletem os níveis reduzidos de filiação aos sindicatos da categoria, agravados pelas demissões em massa ocorridas nos últimos anos. Além disso, ajudam a explicar a situação de fragilidade do movimento sindical dos jornalistas frente a um segmento patronal predatório (e muito influente do ponto de vista político), constituído pelo oligopólio da mídia e por monopólios regionais e locais.

“O resultado mostrou que há uma parcela expressiva da categoria com sede de mudança”, declara o jornalista Jonas Valente, que encabeçou a Chapa 2. “Infelizmente a Chapa 1 não apresentou propostas concretas para sair do imobilismo que vem marcando a Fenaj. Seguiremos participando dos fóruns do movimento, propondo e cobrando que nossa federação responda efetivamente às demandas da categoria”, afirmou (confira o 
programa da Oposição).

Ampliação

Tradicionalmente, a composição da Chapa 2 limitava-se ao “Movimento Luta,Fenaj!” (MLF, criado em 2004 pela oposição de esquerda), eventualmente com o apoio pontual de grupos locais. Desta vez, porém, a Chapa 2 ampliou-se: incorporou representantes da ala majoritária do Sindicato dos Jornalistas de Minas Gerais e de um grupo dissidente do Sindicato dos Jornalistas do Rio Grande do Sul, ambos com fortes críticas à condução da Fenaj pelo grupo encabeçado por Celso Schröder, atual presidente.

A ampliação foi essencial ao crescimento registrado: a Chapa 2 ganhou avassaladoramente a eleição em bases importantes como Distrito Federal, onde conseguiu 84% dos votos (194 x 37), Paraná 84% (246 x 45), Sergipe 91% (128 x 9), Minas Gerais 71% (103 x 39); dividiu a votação no Ceará com 42% (158 x 194); e conquistou 38% dos votos no Rio Grande do Sul, resultado inédito (126 x 206). Também venceu em Juiz de Fora (33 x 2), Mato Grosso (22 x 1) e Maranhão (15 x 12).

Assim, a vantagem obtida nas principais bases da oposição compensou os resultados adversos em São Paulo (121 x 340, ou 26% x 72%), Rio de Janeiro-município (110 x 175, ou 38% x 60%), Pará (51 x 62, ou 44% x 53%), Rio Grande do Norte (48 x 104, ou 31% x 68%), Santa Catarina (44 x 101, ou 30% x 68%), Alagoas (36 x 122, ou 23% x 77%), Mato Grosso do Sul (15 x 24, ou 38% x 62%) e vários outros sindicatos.

Maria José Braga, eleita pela Chapa 1 nova presidente (e que, no entanto, integra há muitos anos a sua direção), toma posse no Congresso da Fenaj que se realizará em Goiânia de 25 a 28 de agosto. Será a oportunidade para novos embates entre os “orgulhosos” (apelido jocoso dado ao grupo dirigente, derivado do nome da Chapa 1 em eleição anterior, “Orgulho de ser Fenaj”) e a oposição combativa, num momento em que os jornalistas sofrem novos e frequentes ataques, na forma de assédio moral, frequentes agressões das Polícias Militares, processos judiciais, condenações, prisões e até assassinatos.

Coincidentemente, o Estado de Goiás, que sediará o Congresso, é onde ocorreu o mais recente assassinato de um jornalista: João Miranda do Carmo foi morto a tiros no dia 24 de julho, em Santo Antonio do Descoberto, depois de sofrer várias ameaças relacionadas ao exercício da profissão.

 

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