quarta-feira, 3 de agosto de 2016

E aí vêm as eleições!


























Chegou o tempo, apesar de toda a apatia. E por todos os canais de comunicação já começamos a receber mensagens dos candidatos. Será a hora de mudar o prefeito e a Câmara de Vereadores. Em tese, deveriam ser mudanças para melhor.

No caso de Florianópolis é o momento de fazermos uma análise do que foi o governo de César Souza Junior e João Amin, dois jovens representantes da direita tradicional que se elegeram justamente com o discursos da mudança e da juventude. Mudança, não houve nenhuma, já que eles eram apenas a cara mais nova de uma oligarquia que comanda os destinos da cidade desde décadas. Foi só um jogo de cena alavancado na ideia de que a juventude, por si só, seria o motor de transformações.

Na verdade o que vimos na nossa cidade foi mais do mesmo. César Souza Junior governou para o grupo que o financiou. Empurrou o Plano Diretor goela abaixo à uma Câmara também comprometida com os grupos de poder que a financia. Passou por cima das comunidades e dos desejos da maioria da população. Só mesmo por conta da Justiça acabou voltando atrás e realizando novas audiências, ouvindo o povo. E assim, passados quatro anos, ainda estamos nessa pendenga, sem que o Plano que orienta a vida da cidade tenha sido votado. Todo o tempo tendo de viver essa queda de braço.

O Plano Diretor de Florianópolis é, em última instância, a expressão da luta de classes, porque determina o tipo de cidade que as pessoas querem para viver. No plano da prefeitura, do César, e da maioria dos vereadores, a cidade é espaço de especulação, lugar onde devem viver os ricos. Aos trabalhadores e aos empobrecidos que fique a periferia, com seu transporte ruim, sua estrutura capenga e sua desesperança. O espaço das praias também é lugar de exclusão da maioria. Ali vicejam os condomínios de luxo, os beach clubes (clubes de praia), as mansões. Pescadores e trabalhadores que busquem outros lugares para se divertir, de preferencia bem longe dos turistas.

Já no Plano Diretor discutido e definido pelas comunidades a cidade é lugar de todos, com mobilidade de qualidade, espaços de lazer, compartilhamento e comunhão. Os bairros próximos da praia querem prédios mais baixos, estrutura para os moradores, jardins, parques, ciclovias. Outros, mais urbanos, como o estreito, por exemplo, querem humanização, já que o concreto parece devorar cada rua e cada vida. O plano da prefeitura prevê 18 andares nos prédios. Assim, fica ruim de viver. Por isso a luta incessante, as reuniões, as audiências. A população organizada, que pensa e vive a cidade quer ter na mão o poder que é dela.

Mas, para quem governa, o poder não emana do povo. Vem dos grupos financeiros e empresas que financiam as campanhas em troca de favores futuros. Não foi sem razão que o atual prefeito tirou até o Mercado Público das gentes. Hoje, quem passa por lá só o que vê são jovens engravatados, senhoritas glamorosas ou turistas cheios de dinheiro. O mercado se perdeu da cidade, virou espaço da burguesia, a que pode pagar 14 reais por um pastel gourmetizado, sentada em cadeiras forradas com peles de animais. Ali já não se veem os negros com o samba de roda de todo o sábado, nem os capoeiras, nem os trabalhadores. Embranqueceu o mercado, elitizou, fechou, desapareceu sob um teto estranho que esconde também sua bela arquitetura.

Os vereadores

No campo do legislativo igualmente foi um tempo ruim. Dos 22 vereadores, mais da metade esteve envolvida com denúncias de corrupção ativa. Operações policiais colocaram luz sobre os acordos que acontecem nos gabinetes, enquanto a população dorme pensando que os nobres edis estão cuidando da cidade. Nada disso. Cuidam dos interesses de seus “donos” e dos seus próprios. Exceções há, é claro: Lino, Afrânio, Pedrão. Mas, são isso. Exceções. Pensam nas demandas da população, brigam pelos interesses da maioria que os elegeu - não com seus recursos financeiro, mas com seu voto esperançoso - e não decepcionam.

Já os demais votam contra a cidade, a favor dos interesses de poucos. E, é claro, por conta de seus discursos floreados e mentirosos, fazem parecer que é de interesse de todos o que só alguns vão ganhar. Contam com a ajuda preciosa de uma mídia comercial, que também é braço armado da classe dominante. E aí está feito o cenário. No episódio da votação irregular do plano diretor isso ficou bem claro. A maioria votou no plano da prefeitura, com mais de 600 emendas, sem sequer conhecê-las. E por quê?  Porque não estavam ali para zelar pela cidade, mas para servir aos seus financiadores ou corruptores.

O enrosco com a corrupção não fez sequer que a maioria corasse, tanto que nos processo de tentativa de cassação dos vereadores corruptos, essa maioria se omitiu ou votou contra, permitindo que tudo ficasse como sempre foi. E lá seguem os mesmos vereadores que votam contra a cidade, esperando pela nova legislatura.

Agora, começa de novo o processo de caça ao voto. E os candidatos dos partidos que defendem os interesses dos ricos, dos empresários, da classe dominante, estão por aí, fazendo linguições, churrascos, feijoadas, tainhadas, tentando enredar os eleitores. Muitos – amigos – votam nesses corruptos achando que estão fazendo um bem para a cidade. Sequer sabem o que eles defenderão no futuro, e nem se importam. Faz parte da lógica dessa nossa democracia fraca, que permite unicamente o doce momento do voto, sem participação na construção da proposta, e sem acompanhamento posterior.

Por isso é sempre difícil uma alternativa de esquerda, porque essas exigem comprometimento, participação, acompanhamento sistemático. Votar num candidato de um partido comprometido com a maioria é sempre muito mais do que colocar o voto na urna. Não envolve participação em churrascadas, nem busca qualquer ganho pessoal. É a aposta num projeto de cidade, para além da rua, do bairro. É embarcar numa proposta que busca garantir o direito de viver e vivenciar a cidade, qualquer espaço dela. É um compromisso coletivo. Coisa difícil de se ter num mundo que investe todas as fichas no individual, na sensação pessoal, no interesse.

Também é certo que o panorama político atual não é dos melhores. Os partidos de esquerda capengam em alianças mal havidas, buscando galgar alguns degraus de governabilidade, entregando a alma ao diabo. E os que mantêm firmes seus princípios de esquerda acabam ficando perdidos, entre o voto nulo e o voto útil. Está bem difícil agir como antes, quando se votava num projeto global partidário. Agora, escolhe-se alguém no universo dos companheiros e companheiras do campo da esquerda, e fica-se esperando que ele ou ela não sucumba às alianças espúrias cometidas pelas cúpulas dos partidos. É sempre uma aposta no escuro. Porque, claro, o partido sempre prevalecerá.

Em Florianópolis tudo leva a crer que a melhor opção é o Elson Pereira, do PSOL, justamente porque ele vem discutindo – desde há tempos  - o projeto de cidade com o qual estamos afinados. Não que o PSOL seja o melhor partido, mas o Elson acaba sendo a melhor escolha, justamente pelo acúmulo de debate que ele e o seu grupo têm sobre essa cidade que queremos e pela qual lutamos. Foi assim na eleição passada, quando suas propostas visceralmente ligadas aos desejos construídos nesses anos de debate sobre o Plano Diretor, surpreenderam as forças políticas conservadoras e conseguiram furar bloqueios em mentes variadas e suprapartidárias. Agora, mesmo tendo estado afastado por um tempo, na Europa, certamente ele canalizará na campanha, o projeto de cidade com o qual vimos sonhando.

No espaço da Câmara de Vereadores também as mudanças urgem. Não basta termos um prefeito com um projeto bom. Precisa que ele tenha maioria no legislativo, senão os melhores sonhos e propostas ficam pelo caminho. Então, é tempo de pensar. Não se pode votar em alguém só porque é nosso amigo ou nos fez um favor. Tem que saber se esse alguém defende um projeto coletivo de cidade. Não basta votar em negro porque é negro, nem em mulher porque é mulher, nem em homossexual porque é homossexual. Há que ver se esse negro, essa mulher, esse ou essa homossexual está vinculado ou vinculada a uma proposta que ultrapasse os particularismo. Um vereador ou uma vereadora não vai legislar só por uma causa, ainda que a priorize. Ele ou ela precisa votar e definir coisas que dizem respeito a toda a cidade.  

No universo de nomes que hora se apresentam encontro muitos companheiros e companheiras que têm esse perfil. São pessoas que defendem causas específicas, mas que também estão mergulhadas nas lutas gerais da cidade, plano diretor, saneamento, mobilidade, segurança, educação, saúde. Esses são os que merecem nosso voto. No campo da esquerda e com compromisso universalizante.

Com profundo respeito aos compas que estão nessa peleia, eu já defini meu voto: será no Lino Peres, do PT. Apesar do partido (quase saído do campo da esquerda), o trabalho realizado pelo Lino na Câmara de Vereadores é o que está mais próximo daquilo que eu acredito que deva ser o compromisso de um vereador. Tem foco e é totalizante. O Lino pensa a cidade, vive a cidade, organiza, convoca à participação sistemática, diária e cotidiana. Nesses quatro anos passados, de fato ele representou, em cada voto que deu, em cada ação que promoveu, aquilo que, para mim, define os desejos da maioria das gentes que amam Florianópolis. Penso que será importante que ele continue o trabalho que vem fazendo, e que outros companheiros, dos demais partidos do campo da esquerda, possam também furar esse bloqueio oligárquico que sobrevive na capital.

Querendo ou não, a vida da cidade ainda se define nesses espaços – como a Câmara e a Prefeitura - então não podemos vacilar. Avançar na organização, nos movimentos e nas mobilizações, mas não deixar esses espaços de poder ocupados por quem nos oprime. A batalha legislativa não é a mãe de todas as batalhas, mas, enquanto não tivermos um partido revolucionário  ( como insiste nosso querido Danilo Carneiro), há que fazer como o caracol: “lentamente, ir subindo o Monte Fuji”.  



Um comentário:

Unknown disse...

Prezada guerreira Elaine Tavares, com seu labor diuturno, de posição sempre crítica e independente com relação a qualquer tipo de poder opressor, agradeço as generosas palavras e o reconhecimento pelo nosso trabalho. É com satisfação que recebo seu apoio, que vale muito mais que o anseio quantitativo de votos a qualquer custo. Sou do tempo em que éramos de fato minoria e que peleávamos, e ainda peleamos, por um projeto liberador como partido e que hoje está partido e que só encontramos naqueles lugares dos quais muitos não deveriam ter saído na busca confortável do poder instituído em gabinetes parlamentares ou do executivo. Continuaremos em nosso projeto com a cidade a partir das periferias, dos locais de trabalho e suas representações, dos territórios invisíveis, e, se visíveis, com deficiente urbanidade, buscando dar voz e ecoar o grito de revolta daqueles e daquelas que jamais se calaram, como têm sido, com relação ao Plano Diretor, as lideranças do Campeche, Pântano do Sul, Lagoa, Ratones, área continental, Maciço do Morro da Cruz, que ressurge do descontentamento com a precária implantação das obras do PAC, renascendo aos poucos o Fórum local. Continuaremos lutando também pela transparência de toda ação do executivo e também do legislativo, como temos feito contra as 12 irregularidades e atos de corrupção em que a atual administração esteve e está envolvida junto a alguns vereadores. Sabemos que a atividade parlamentar é apenas um braço dos movimentos sociais organizados, mas que serve para alavancar a democracia, para além de sua representatividade indireta, a democracia direta ou participativa. E é neste projeto que estivemos e estamos imersos. O controle social não deve limitar-se à atividade fiscalizadora e legislativa, mas à organização coletiva da sociedade, processo no qual o parlamentar é canal e ajudar a fortalecer. Estas são algumas das missões às quais vamos continuar a nos dedicar em nossa caminhada.

Prof. Lino Peres