sábado, 27 de junho de 2015

O Haiti e e seus dilemas



















Entrevista do Professor Waldir José Rampinelli ao programa Campo de Peixe, na Rádio Campeche






O Brasil e seus desafios















Professor Nildo Ouriques fala sobre a conjuntura brasileira ao programa Campo de Peixe , da Rádio Campeche





Uma batalha vencida



Há uma grande diferença entre a política de um estado, seus dirigentes e o sistema capitalista que os domina, daqueles que, vivendo dentro de cada um desses espaços geográficos, lutam por transformação e por justiça. Por isso devemos comemorar sim a batalha vencida pela comunidade gay nos Estados Unidos. Muitas dessas pessoas podem ser reacionárias, racistas, capitalistas, individualistas e tudo mais que orienta a opressão social num estado como os EUA. E esses não mudarão, apesar de terem um aspecto de sua vida mudado.

Mas também há na comunidade gay pessoas que fogem desse perfil conservador e buscam a vida boa para todos, a justiça, o caminho da transformação.  Eu me solidarizo com todos os que sofrem preconceito por sua orientação sexual, e celebro com os gays estadunidenses essa importante vitória. O estado não deveria legislar sobre quem podemos amar, mas já que é assim, que bom que agora, também lá, num dos países mais conservadores do mundo, os homossexuais tenham seus direitos garantidos. 

Isso não significa, de nenhuma maneira, que ao amanhecer o dia de hoje, toda essa gente seja aceita e respeitada. A maioria continuará sendo morta, violentada, humilhada e tudo mais. A lei não muda a cabeça das gentes, ela apenas procura amparar. E muitas vezes tampouco consegue. Então, essa é uma batalha inconclusa, que só virá numa sociedade realmente nova. 
A luta segue. Há muito ainda para conquistar.

quinta-feira, 25 de junho de 2015

Dilma, a mandioca e os indígenas















na lenda, a mandioca nasce do corpo de uma menina






















Nem preciso dizer, mas sempre é bom, que acho o governo de Dilma Roussef uma fraude. O PT é um partido da ordem que governa para a classe dominante. Quanto a isso não resta qualquer dúvida. Mas, ainda assim preciso falar sobre o discurso que a presidenta deu durante os jogos mundiais indígenas e os comentários desairosos que se veem nas redes sociais. Sobre eles, alguns elementos me parece importante dissertar.

Primeiro: Ninguém está nem aí para a cultura indígena. A completa indiferença da maioria das gentes brasileiras pelos primeiros habitantes desse lugar não é novidade. Ao longo dos séculos os indígenas foram dizimados, assassinados e desaparecidos. Muito foram subsumidos na cultura branca e, à exaustão, os meios de comunicação e os aparelhos ideológicos têm disseminado a ideia de que índio é um ser de segunda categoria, um sujo, um bêbado, um atrapalho para o progresso da nação. 


Por conta desse “crime perfeito” poucos são os que se dispõe a conhecer e entender a cultura dos povos originários que, no Brasil, conformam mais de 300 etnias, 270 línguas e um milhão de pessoas. Gente que tem uma cosmovisão, uma história e uma cultura importantíssima.  Não é, então, sem razão, que a notícia mesmo – a realização dos jogos mundiais indígenas – tenha sido apagada, com o foco todo sendo dirigido para as palavras da presidenta, que, bem orientada, se embasaram na rica tradição indígena. 

Segundo: O eurocentrismo e o colonialismo mental da maioria dos brasileiros é algo que ainda tem um peso gigantesco na cultura nacional. Uma ignorância que é imposta, na medida em que as escolas e os demais centros de irradiação de conhecimento ainda se mantêm reféns de uma cultura exógena, tida como melhor do que a nossa. Assim, valoriza-se mais a lógica dos fast-foods, vindas da matriz imperial – os Estados Unidos  - que o nosso baião de dois. É mais chique comer escargots do que pirão d´água. Tudo isso é carregado para dentro das gentes pelos meios de comunicação, na sua interminável mais-valia ideológica. 

Por isso as piadas sobre a questão da importância da mandioca, que Dilma muito bem lembrou no discurso aos povos indígenas. 

Pois a mandioca é um alimento sagrado para o povo indígena de quase toda a Abya Ayala, inclusive para os povos do norte. Sobre ela contam-se lendas da mais profunda beleza. Ela é absolutamente a rainha dos trópicos, a terceira maior fonte de carboidrato, e está presente na mesa de quase todo o brasileiro e latino-americano, muitas vezes até sem ele saber.  

Contam os Tupi que uma de suas mulheres deu à luz a uma indiazinha que foi chamada de Mani.  Ela era linda e tinha a pele bem branca. Era alegre e brincalhona, e tanto, que todos a amavam.  Mas, um dia ela ficou doente e por mais que fizessem não conseguiram salvá-la. Ela se foi. Foi enterrada dentro da própria oca, como é costume. E os pais regavam seu túmulo com lágrimas. 

Foi então que, um dia, dali começou a brotar uma planta. E sob as folhas verdes nasceu uma raiz marrom, bem branquinha por dentro. Os pais a chamaram de Maniva, em homenagem á  filha. Desde aí essa raiz passou a fazer parte da vida da tribo e nunca mais deixou de vingar pelas terras dos trópicos. Ela é tão importante, inclusive, porque praticamente não precisa de manejo e se mantém na terra por muito tempo. Foi um presente de Mani para sua gente.

A mandioca é, então, um elemento fundamental da cultura indígena e da nossa própria cultura brasileira.  “A mandioca é a rainha do Brasil”, dizia Câmara Cascudo, um dos nossos maiores estudiosos do folclore e da cultura nacional. Ele estava certo. 

Dilma é um desastre na política e na economia, governando para a classe dominante. Mas, nisso – da importância da mandioca - ela acertou.  

E que viva a mandioca, como diria o genial Gilberto Vasconcellos, um produto genuíno do nosso país. 





quarta-feira, 24 de junho de 2015

Uma experiência autônoma grega



Oscar Oliveira é um lutador social da maior importância na Bolívia, tendo sido uma das lideranças da famosa "guerra da água", que aconteceu em Cochabamba colocando em xeque o processo de privatização da água naquele país. Hoje, ele atua uma escola rural onde ensina as crianças a conviver de maneira harmônica com a terra. 

Esteve na Grécia visitando experiência de lutas dos trabalhadores e traz aqui suas impressões sobre o que viu. 






"Esta é uma primeira entrega  de uma série de pequenos testemunhos sobre o que pude perceber e sentir na longínqua, mas tão próxima Grécia. 

Relatarei o que vi em uma Cooperativa de consumo, em um parque autônomo de Atenas, a entrevista com um jornalista e com a gente simples e trabalhadora das ruas. 

Não serão artigos, mas uns versos anarquistas (sem regras ou padrões literários), apenas palavras de esperança, inspiração e criação.

PARTE 1

Grécia- Tessalônica-Atenas

Tive o privilégio de visitar, compartilhar e sentir o que acontece no território sem partido, sem caudilhos nem patrões, na fábrica Vio.Me (Bio. Me, em grego), em Tessalônica, Grécia.

Território que está sendo construído desde baixo, a partir das angústias, da estafa do capital frente a inoperância, temor e burocracia estatal e com um grande sentido de irmandade, solidariedade, alegria, risos e esforços por parte de um punhado de trabalhadores que, tendo perdido seus empregos, decidiram estabelecer um espaço produtivo, não apenas para sobreviver a crise grega, mas principalmente mostrar que é possível construir no caminho o processo revolucionário com as mãos calosas e o coração grande em meio a tormenta. 

Esses trabalhadores conseguiram estabelecer  laços fraternos e práticos com os trabalhadores e trabalhadoras de Zanón, na Argentina, assim como uma rede importante do movimento social internacional, que já manifestou seu apoio pleno à construção da autonomia. 

Antes fabricavam artigos para construção, agora fazem artigos para limpeza de casas, cuja estrela é um pequeno sabão que se faz grande pelo conteúdo do trabalho, esforço, suor, de cisão e dignidade. 

Tivemos um importante diálogo, quase sem falar, porque nem necessitava. Trocamos alguns presentes. As palavras estavam ditas e escritas no nosso olhar, nas nossas mãos, nos nossos sorrisos e na alegria de compartilhar, não só esses momentos, mas esses espaços que antes eram de exploração e de ditadura do capital e patronal, e que hoje são cheios de carinho, reciprocidade e esperança. 

Vio. Me é nossa!"

terça-feira, 23 de junho de 2015

Capoeira da ilha


Kiko Knabben (diretor)  com Danuza L. Meneghello

Capoeiras














Com Danuza L. Meneghello e Fábio machado Pinto, dois dos autores do livro 

Foi lançado no Festival Audiovisual do Mercosul, o documentário sobre o Mestre Nô e a capoeira da Ilha, "nego bom de pulo". Um belíssimo registro sobre o nascimento da capoeira em Florianópolis e a influência poderosa do Mestre Nô sobre boa parte dos capoeiras locais. Figuras importantíssimas como Mestre Pop, Calunga, Alemão, entre outros, também foram reverenciados. Um belíssimo registro da história da capoeira em Florianópolis feito pelo cineasta Kiko Knabben.

Depois da apresentação foi realizado o pré-lançamento do Livro "CADERNOS DE CAPOEIRA" que igualmente recupera essa bonita história da capoeira em Florianópolis. O lançamento mesmo será no segundo semestre, com a presença do Mestre Nô.


domingo, 21 de junho de 2015

São João no Morro das Pedras




















Fui com Fabrício na festa da sua escola. Festa de São João. Havia anos que não partilhava de tanta alegria. A escola pequena, que fica no Morro das Pedras, recebeu a gurizada e as famílias. Decorada com bandeirinhas ela se abriu para a algazarra e a gritaria, que já deve ser coisa cotidiana. As meninas de roupinha de chita, os meninos de chapéu e barba. No som, a forrozeira e os pais, chegavam com bolos, maças do amor, pipoca, cachorros-quentes, cucas, biscoitos e outras tantas guloseimas. Havia joguinhos de pescaria, boca do palhaço, pula-pula. Uma algaravia só.

A escola, talvez por ser pequena, parece um colo de mãe. As professoras chamam os alunos pelo nome, conhecem os pais. E as crianças se sentem em casa. Nesses tempos virtuais, foi reconfortante vibrar com a gurizada que parecia muito mais interessada em correr, pular e se lambuzar de bolo, do que teclar o celular. 

Conviver com esses adoráveis pequenos é recarregar as baterias. No coração do Morro das Pedras ainda existe São João... 


Desculpe pelo transtorno
















Fotos: Todd Southgate




Estivemos ontem no lançamento nacional do documentário sobre o Bar do Chico, que é também a história da luta desse nosso povo campechiano. O filme, feito por Todd Southgate e produzido por Ivan de Sá, mais uma vez provocou intensa emoção., Porque é sempre bom ver, desde fora, aquilo que é o nosso cotidiano. Choramos, rimos, vibramos, indignamos, tudo ao mesmo tempo. Ver o Seu Chico, a luta pela Plano Diretor, a batalha de gente como a Janice Tirelli, o Ataide Silva, a Tereza Barbosa e tantos outros ser eternizada com tanta beleza é um presente precioso. O Centro de  Eventos da UFSC estava lotado, o povo vibrou com a derrubada do deque do Essense, vaiou César Souza, foi uma catarse. E o Todd conseguiu o que todo o artista persegue. Tocar a alma do outro, provocar a emoção verdadeira. Obrigada Todd, Obrigada Ivan. Esse trabalho é lindo. Viva o Campeche, viva a luta do povo organizado.