sexta-feira, 15 de maio de 2015

Greve dos professores estaduais continua




A assembleia marcada para quinta-feira tinha tudo para ser tensa, e foi. Muito tempo de greve, o desgaste, a desolação pelas reuniões improdutivas com o governo. Os professores precisariam avaliar a última resposta do governo sobre a pauta da greve. O documento apresentado pela equipe de Raimundo Colombo não pode ser chamado de uma proposta de negociação. Da pauta mesmo, nenhum item. A indicação era de anistia pelos dias parados e a revisão da redação do tópico que fala das progressões. Nada sobre o pagamento de 13,01% do Piso na carreira, retroativo a janeiro, nada sobre a não incorporação da regência de classe, nada sobre a não contratação de ACTs como horistas, nada sobre quase tudo. 

Negociação é um processo de conversa na qual os dois lados, geralmente, tem de ceder em alguma coisa. Mas, no caso do processo de greve dos professores catarinenses, apenas os trabalhadores estão sendo chamados “à razão”. Ora, o governo não cede? 

A tensão na assembleia ocorre justamente por isso. Como o tempo está passando e todo mundo fica angustiado, a tendência é cair na conversa do “vamos pegar o der”, como se a greve tivesse sido deflagrada para não ter os dias descontados.  Na mídia comercial já começam a vociferar os arautos do poder, falando em intransigência dos professores, dizendo que “não dá para ganhar tudo”, que é preciso pensar nas criancinhas.

Seria bom ver a mesma atitude desses jornalistas quanto à atitude governamental. Quem não está pensando nas “criancinhas” é o Raimundo Colombo e sua equipe. Eles estão arrastando a greve, criando uma atmosfera na qual a vítima vira vilão. Ou seja, dizem que são os professores os responsáveis pelo fato de os estudantes não terem aula. Quando, na verdade, é o contrário. E não venha o governo dizer que não tem dinheiro. Santa Catarina é, de fato, um dos estados mais endividados da união. Segundo relatório da Secretaria da Fazenda Estadual o passivo acumulado soma R$ 25.094.043.790,26. Ou seja, vinte e cinco bilhões de reais. 

Mas, o que a sociedade precisa saber é que se a dívida é essa, não é por conta dos salários dos trabalhadores, muito menos por investimentos na saúde ou educação. A dívida cresce de forma exponencial por conta do pagamento de juros sobre juros de empréstimos que, muitas vezes, não serviram para melhorar a vida dos catarinenses. Ao contrário, foram sendo contratados para pagar dívidas velhas. Se olharmos o gráfico da dívida veremos que o que se utiliza de recursos para obrigações trabalhistas é ínfimo. Assim que pagar melhor aos professores é uma decisão política. 



Falam ainda em queda de braço de tendências partidárias ou de grupos divergentes no mundo sindical. Ora, isso é coisa muito natural de acontecer num movimento de greve. Uma categoria reunida em um sindicato não é um bloco homogêneo. Ainda que lutem por uma pauta corporativa, também debatem pautas da política educacional que se conflitam. Grupos organizados dentro do movimento sindical têm opiniões divergentes sobre educação, sobre método de luta, sobre o lá-na-frente que se quer chegar. E é natural que isso se explicite num momento como a greve, quando todas essas temáticas vêm à tona. Então, as disputas políticas e partidárias são saudáveis e fazem parte da grande política. É certo que elas não podem passar por cima das decisões da categoria sobre a luta, mas elas têm todo o direito de se colocarem à discussão. Então, esse também é um argumento redutor, que busca dividir e desmobilizar. Não deve ser levado em conta.

A greve continua e não é por intransigência dos trabalhadores. É bom analisar a realidade com um olhar abrangente e generoso, identificando com clareza as forças em disputa e tomando partido. Estar com os professores é se posicionar a favor de uma educação de qualidade. Porque o ensino está absolutamente ligado com as condições nas quais ele é oferecido. Sem professor bem pago, sem estruturas seguras e bonitas, o ensino será falho. E, quem perde com isso, somos todos nós.  Porque como diz o professor de Imbituba, Marcelo Francisco Basso, a educação precisa de amor, mas também de gente que sabe que sem luta não se avança. 


O mestre da capoeira


Entrevista com mestre Jimmy, que recebeu a medalha Cruz e Sousa na Câmara de Vereadores de Florianópolis, no dia 13 de maio. Uma indicação do vereador Lino Peres (PT).


Trabalhadores da prefeitura de Florianópolis entram em greve

Trabalhadores da prefeitura definem greve e vão até a Câmara de Vereadores. Lá, são recebidos com gás de pimenta.Veja como foi a movimentação e os motivos que levam os trabalhadores a greve.

quinta-feira, 14 de maio de 2015

Você tem medo de quê?





















Cheguei à Câmara de Vereadores por volta das três e meia. Ia para a uma sessão especial de entrega da Medalha Cruz e Sousa. Estranhei a porta fechada. Lá dentro, funcionários indicavam: “entrada lá por baixo”. Na porta, alguns guardas municipais, inquietos. Entrei. Alguma coisa estava fora da ordem. Foi subir a escada e já comecei a ouvir um barulho de gritos, distante ainda. Entendi. Dentro da Câmara, o clima era de medo. Certamente se aproximava o povo.

E foi fato. Os trabalhadores da prefeitura municipal de Florianópolis tinham realizado uma assembleia geral para discutir o andamento das negociações com o prefeito César Souza. Eles estavam numa mesa exigindo reajuste de salário, melhores condições de trabalho e principalmente, que o dinheiro público seja investido no serviço à população. Nos materiais de informação aos florianopolitanos, indagavam: “O prefeito Cesar Souza Junior diz que não tem dinheiro para atender a pauta dos trabalhadores. No entanto, queremos saber: onde foram parar os 35 milhões de reais desviados na operação “Ave de Rapina” – processo de corrupção que envolveu compra de votos de vereadores - em novembro do ano passado? E o dinheiro gasto para a criação de novas secretarias e para manter o reajuste de até 30% das 498 funções gratificadas e 543 cargos comissionados da Reforma Administrativa aprovada em abril? E para onde foi o dinheiro arrecado com o IPTU que sofreu um aumento de quase 50%?”.

A resposta do prefeito aos trabalhadores, depois de duas reuniões de negociação, foi pífia: sem acordo na maioria das reivindicações. Assim, sem saída, a única alternativa encontrada pelos trabalhadores foi a deflagração da greve. Acertada a paralisação a partir de então  - quarta-feira, dia 13 – os servidores municipais saíram em passeata pela cidade e caminharam em direção à Câmara de Vereadores, onde seria votado o pedido de arquivamento da denúncia de quebra do decoro pelo vereador César Faria, um dos envolvidos na operação Ave de Rapina.  

Com cartazes e dezenas de caixas de pizza, os trabalhadores queriam se manifestar no sentido de exigir da Câmara de Vereadores o não arquivamento e a apuração – até o fim  - do envolvimento de todos os vereadores  citados. Era essa multidão que se aproximava da “casa do povo” quando, eu, tranquila, esperava as medalhas. 

Os trabalhadores chegaram e vieram para a porta central, que já estava fechada desde as 15h. Ninguém entraria no plenário. Lá dentro já estavam os homenageados, as famílias, os amigos e os vereadores. Entre os trabalhadores da casa começa a correria. A Guarda Municipal é chamada e vários deles correm para a porta, já com os cassetetes a mão. Carregam ainda armas de choque e gás de pimenta. São trabalhadores municipais, colegas dos que estão lá fora. 

Os trabalhadores de fora gritam e batem na porta. Os trabalhadores de dentro aprumam o corpo e se preparam para reprimir. As funcionárias da Câmara fecham as portas internas, correm para dentro. Há medo. Difícil definir a sensação. Os vereadores – na maioria  - temem o povo, isso é necessário mesmo. Mas, os trabalhadores temerem seus colegas? Por quê? Acompanho em perplexidade. 

Desisto de ficar do lado de dentro vendo a multidão agigantar. A porta de vidro treme. Desço pelo outro lado e saio para acompanhar a mobilização. Os trabalhadores querem acompanhar a sessão. Querem presenciar a votação. Mas, são impedidos. Não podem entrar. A porta lá em cima segue tremendo. Então, a guarda municipal abre a porta. Mas não é para que entrem. Gás pimenta é espargido na cara de quem está mais à frente. Alguns denunciam que também levaram choque. Sufocados, os trabalhadores recuam. Sobra a profunda tristeza. Os colegas, que deveriam estar ali, com eles, lutando, são os que reprimem. A velha estória de sempre. 

As coisas se acalmam, os trabalhadores insistem e ficam ali. A luta começa e já enfrenta a fúria do poder dominante. Lá dentro, os vereadores rejeitam o arquivamento da denúncia contra César Faria e encerram a sessão. Nada de povo dentro da Câmara. Por outro lado fica a lição de que o poder teme o povo, teme demais. E, muitas vezes, as gentes não se apercebem do seu poder. 

Lá fora, as gentes. Os que nos atendem nos balcões, nos postos de saúde, nas escolas, nas repartições. Os que realmente fazem a “maquina” andar. Lutam por salário, por vida digna. Alguém pode dizer: “bando de vagabundo que não trabalha”. E estará mentindo. Não fossem os trabalhadores, que muitas vezes precisam tirar leite de pedra, a tal da máquina nem se arrastaria. A batalha pelo serviço público é diária. Alguns há que não dignificam essa coisa bonita que é “servir o público”, mas são poucos, muito poucos. A maioria é como essa gente que está na rua, lutando pelos seus direitos. Lutando pelos nossos direitos. 

A greve dos trabalhadores da prefeitura municipal começou ontem. Abriu forte, abriu guerreira. Com eles, estamos. Que o dinheiro público seja para o público. Que se abram as “caixas-pretas” do financeiro, que se deem condições de trabalho a quem tem de ficar à frente de um serviço que, no mais das vezes, é ruim. Não por culpa dos trabalhadores, mas por responsabilidade dos que dirigem e não dão prioridade a ele.




Sindicato dos Jornalistas faz 60 anos



















Os jornalistas de Santa Catarina começaram a se organizar em associação de classe no ano de 1953, com a criação da Associação dos Jornalistas Profissionais. Dois anos depois já tinham a carta sindical que foi publicada em 13 de maio. Foi quando a associação virou Sindicato e desde então muitas foram as batalhas travadas em nome de melhores condições de trabalho, salário digno, registro profissional, respeito pela profissão. Grandes campanhas de valorização da profissão foram feitas por importantes jornalistas locais como Antunes Severo e Adolfo Zigueli.

No final dos anos 60 é o SJSC que começa uma campanha para a criação do Curso de Jornalismo na recém-criada Universidade Federal de Santa Catarina. Essa é uma mobilização que só vai dar fruto em 1979, quando, finalmente, é criado o curso na UFSC. Esse foi um período difícil e turbulento, por conta do regime militar, mas muitos profissionais jornalistas se destacaram na luta pelas liberdades civis. Por outro lado, as direções que se sucediam atuavam de modo conservador, silenciadas diante da ditadura.

O ano de 1987 foi um marco para os jornalistas, pois a direção da entidade é finalmente conquistada pelo grupo de oposição, o MOS (Movimento de Oposição Sindical), formado por uma nova geração de profissionais que dá outra direção às lutas da categoria, bem mais ligadas às demandas reais dos trabalhadores e com um perfil político de esquerda. Foi um período histórico para os jornalistas, com grandes lutas, grandes mobilizações e debates. Como em todo o país, também os jornalistas participavam da rica ascensão da cultura democrática. 

Com o passar dos anos, a comunicação em Santa Catarina foi se transformando. O grupo RBS chegou e foi esticando seus tentáculos na construção de um oligopólio. E, aí, também a vida dos jornalistas mudou. O poder da empresa gaúcha foi mexendo na vida, transformando o mercado de trabalho num espaço único. Com o fim do jornal O Estado, e a compra do Jornal de Santa Catarina (Blumenau) e do A Notícia (Joinville), a RBS abocanhou os mais importantes locais de produção do jornalismo. No começo as lutas foram grandes, mas com o tempo amainaram. A categoria, sufocada entre o medo e a indiferença, perdeu força.

Hoje, outra geração vai assumindo o leme do sindicato. Diante dos novos tempos, de domesticação de boa parte do movimento sindical, o SJSC também participa da corrente. Com a apatia da base – esgotada pela multifunção e a superexploração do trabalho – o sindicato luta para manter viva a chama da luta. Muita coisa há para fazer. Reorganizar os jornalistas, inspirar consciência de classe, lutar contra o oligopólio, batalhas pelas demandas maiores como a regulação da mídia. Um universo de lutas que precisam também da ação dos jornalistas. 

O sindicato ainda é um importante instrumento de luta. Com ele pode ser difícil, às vezes, mas sem ele seria muito pior. A organização dos trabalhadores é a única forma que se tem para enfrentar a voracidade dos patrões. E um sindicato é mais que a direção. Ele precisa ser força viva, com participação real dos filiados. Sem isso, pouco se pode fazer.

Nosso SJSC fez 60 anos, tem uma linda história e ainda novas páginas em branco para preencher. Parabéns a todos que contribuíram na construção dessa ferramenta de luta. Foi bonito de ver, os colegas do passado – mesmo os conservadores que ainda hoje servem à classe dominante – e os do presente, buscando encontrar formas de melhorar a vida dos trabalhadores jornalistas. Há, na categoria, os que sabem que a luta não é apenas corporativa, ela passa também pela construção de outro modo de organizar a vida, não só para os jornalistas, mas para toda a gente. E é com esses que a gente procura caminhar.

De qualquer sorte, a homenagem da Assembleia juntou todo mundo, adversários, divergentes, amigos, enfim. O SJSC bem maior que todos nós. Longa vida e próspera. Que venha cheia de luta e de beleza. 


quarta-feira, 13 de maio de 2015

Mestre Jimmy - Medalha Cruz e Souza

































Mestre Jimmy, ao centro - Foto: Jerônimo Rubim

A pedido do mandato do vereador Prof. Lino Peres, às 16h desta quarta-feira (dia 13, data alusiva ao Dia da Abolição da Escravatura), a Câmara Municipal presta homenagem em Sessão Especial a Valmir Ari Brito, o Mestre Jimmy da capoeira. Ativista da construção de uma pedagogia multirracial e popular, ele é referência nas ações de defesa da raça negra em Florianópolis e receberá a medalha Cruz e Souza por suas relevantes contribuições nas áreas cultural, desportiva, de desenvolvimento social e educacional da cidade. 

Contramestre da Associação Brasileira de Capoeira Angola Palmares e Mestre em educação pela UFSC, Jimmy exerceu diversos cargos de direção em associações de capoeira, e criou, com outros capoeiristas, as rodas no Mercado Público, Figueira da Praça XV e escadaria da Catedral. Com seus estudos e pesquisas em aspectos relacionados às manifestações populares da Cosmovisão Africana, levanta um contraponto à dominação hegemônica das referências simbólicas e intelectuais europeias e anglo-saxãs. 

Uma merecida homenagem a um importante personagem da cidade. Convidamos todos a prestigiarem a cerimônia nesta quarta-feira, 13, às 16h.

terça-feira, 12 de maio de 2015

Sobre vida e morte

























Protestos contra o Código Florestal

Toda vida encerra um mundo de belezas. Nascer é como um presente. A chance de brincar nesse imenso jardim. Mas, como dizem nas redes sociais: ninguém nasce Darth Vader. As pessoas vão se construindo historicamente através das escolhas que fazem, do ambiente onde vivem, das pessoas que encontram. Também há que considerar a classe a qual pertencem e os que escolhem servir.

Muitos tem sido os comentários sobre o senador catarinense Luiz Henrique da Silveira, que morreu essa semana. Aqueles que trabalharam com ele e privaram de sua intimidade derramam boas lembranças, o que deve ser fato. Familiares, amigos, correligionários, pessoas que receberam favores ao longo da vida política, obviamente terão recordações agradáveis, colocarão luz naquilo que de bom compartilharam. E os que travaram com ele embates políticos e pessoais trarão de volta à memória os desserviços, as maracutaias, os equívocos e os males que provocou.

Luiz Henrique como todos nós é um ser histórico. Fez escolhas. Decidiu servir a uma determinada classe e com ela caminhou. Tendo poder, usou-o para alavancar seus interesses e o dos seus aliados. 

Não partilhei de sua vida pessoal. Meu encontro com LHS foi na política e ali só travei embates. Ainda não me sai das retinas a votação do Código Florestal, quando seu governo fretou centenas de ônibus, cheios de agricultores, que vieram de vários cantos do estado para apoiar aquilo que seria uma derrota para eles. Na Alesc, chegaram a ameaçar de agressão alguns ambientalistas que ainda tentavam protestar. Foi uma queda de braço desleal. Mentiram para os agricultores, enganaram e fizeram parecer que o Código era bom. A lei passou e os agricultores vibraram, acreditando que iria ser benéfico para eles. O mesmo código de Santa Catarina, depois, serviu de modelo para o  nacional, que igualmente passou, dando mais benesses para o agronegócio e promovendo a destruição da natureza. Uma conta que pagaremos todos nós.

Também lutei contra o então governador LHS quando ele iniciou todo o processo de privatização do Hemosc e do Cepon, apostando na gestão via Organizações Sociais. Foi uma luta gigantesca travada pelos trabalhadores da saúde e por parte da sociedade catarinense que entendia ser aquilo a entrega de instituições chave da saúde popular aos empresários da doença. A batalha contra os trabalhadores foi feroz e os espaços de saúde foram tomados pelas ONGs. Foi uma derrota dura para a sociedade. Também seguimos pagando alto preço por isso.

Igualmente os professores de Santa Catarina não têm boas lembranças do ex-governador. Durante seu governo buscou a velha tática de dividir para reinar, ignorando o sindicato. Defendia que o piso salarial nacional era um "absurdo" e atuava com mão dura nas greves. Foram três grandes greves - uma delas a mais longa da história - no seu governo e ele chegou a cortar salários sem dó nem piedade, negociando em separado com pequenos grupos e dividindo a categoria. 

Na cultura LHS também deixou uma marca. Privilegiou alguns espaços e deixou à míngua outros, definindo suas escolhas para o benefício dos seus correligionários. Seu nome está colado ao Festival de Dança de Joinville e a ao convênio com o Balé Bolshoi. Mas, a cultura do estado não se resume a isso, por isso chega a ser chocante ler nos jornais que ele foi um patrono das artes. É preciso muito pouco cuidado com a informação e com a pesquisa para afirmar algo assim. É fato que o festival virou uma marca de Joinville, mas isso não significa que a cultura catarinense como um todo tenha recebido atenção. Pelo contrário, durante sua gestão como governador, os artistas, os escritores, os trabalhadores da cultura viveram tempos de penúria, sem uma política pública que distribuísse de forma equitativa os recursos. Não foram poucas as críticas à Secretaria de Turismo, Cultura e Esporte durante seu governo. E o mote era o mesmo de sempre: muito recurso para os projetos de interesse político e nada para os demais. A cultura usada como vitrine, mas tendo apenas uma para mostrar.

Luis Henrique governou como governa um político aliado aos interesses dos grandes, dos poderosos, da oligarquia sempre dominante. Ele fez suas escolhas. Atuou muitas vezes como um coronel de fazenda colonial, ou melhor, um feitor. Criou uma estrutura de governo que até hoje sangra os cofres públicos, as indefectíveis secretarias regionais, inviabilizando investimentos nas áreas necessárias como saúde, educação e segurança. Um político tradicional, truculento com os de baixo. 

Morreu, e como homem público deixou sim um legado. Mas, é preciso que se tenha a correção de especificar que legado foi esse. Para os amigos e aliados foi um, para os adversários e para a classe trabalhadora foi outro. Há que conhecer os dois lados da moeda para apresentar um retrato mais próximo da realidade.

E assim, desaparece um político que construiu-se no apoio a classe dominante. 


domingo, 10 de maio de 2015

Apenas uma voz



Foi assim. Nunca levei dores para casa. Longe da mãe desde bem novinha, a vida foi se encarregando das rasteiras. Mas, para a dona Helena, só contava alegrias. Nas longas cartas que iam para Minas, as letras falavam de belezas, risos e coisas boas. Mas, eu mesma tinha um código. Quando eu ficava doente ou a dor era tanta que não dava mais para suportar, eu telefonava. Não para contar tristezas, apenas para ouvir sua voz.

No mais das vezes era ela quem atendia o telefone. Então eu dizia:

- Mãe? - bem sabendo que era ela. E ela respondia:
- Filha? - bem sabendo que era eu. Só naquela palavra se encerrava um mundo e imediatamente tudo ficava bem outra vez.

Geralmente falávamos de costuras, crochê, tricô e outras coisas do seu mundo de trabalhos manuais. Eu contava alguma novidade e pronto. Estava feito. Era tudo o que eu precisava. 

Nesses dias em que tudo nos lembra a mãe da gente, com propaganda e outras opressões da bondade, eu sempre fico um pouco triste. Não há linhas telefônicas no cosmo infinito.

Mas, ainda assim, nessa hora noa, quando entardece, eu sussurro baixinho: - mãe?

E consigo ouvir sua voz docinha, respondendo infalível: - filha? 

Já posso dormir em paz...