sexta-feira, 9 de janeiro de 2015

quarta-feira, 7 de janeiro de 2015

Governo do Equador recua diante da mobilização indígena



Ministra do Interior diz que vai analisar o recurso da Conaie para permanecer na casa

Enquanto o presidente Rafael Correa falava de sua "revolução cidadã" em Pequim, buscando parcerias econômicas e comerciais com a China, no Equador, o dia era de luta para os indígenas ameaçados de expulsão da sede da CONAIE, a Confederação das Nacionalidades Indígenas do Equador. Extinguia-se nesse seis de janeiro o prazo dado pelo governo para que a histórica entidade, uma das mais importantes do mundo, deixasse o prédio que ocupa em comodato desde há décadas.

Desde domingo várias entidades indígenas, de diversos lugares do país tinham iniciado uma marcha até a capital visando o cerco ao prédio e a resistência, caso a polícia tentasse desalojar a entidade pela força. Quando o dia amanheceu milhares de pessoas já marchavam em direção a sede da CONAI, na Avenida de los Granados,  dispostos a não arredar pé. Já no início da manhã foi instalada uma Assembleia Extraordinária, a qual virou espaço de manifestações. O presidente da entidade, Jorge Herrera, deixou claro a importância da CONAIE: "A partir dessa casa temos discutido e aprofundado as propostas para a construção de uma sociedade mais justa. Por isso decidimos que se pretendem nos tirar daqui, hão de nos tirar mortos, porque essa casa é do povo".

Também fez uso da palavra o presidente da CONFENIAE, Franco Viteri, que igualmente reiterou: "essa casa é território das nacionalidades e dos povos, aqui aprendeu o mesmo presidente Correa, portanto não vamos abandoná-la. Se o presidente pretende nos tirar daqui, estará contradizendo todo o princípio de plurinacionalidade e indo contra seu próprio discurso.  Outra liderança indígena, Carlos Pérez, assinalou que a casa da CONAIE agora se constituía um símbolo da resistência indígena. "Esse edifício é fruto da luta do movimento indígena, do levantamento dos anos 90 e por isso vamos defender a memória histórica de nosso povo".

E assim foram se sucedendo as falas e o compromisso de lideranças populares de tantas organizações equatorianas na defesa da CONAI e do seu direito de permanecer na casa que foi conquistada ao longo de décadas de luta. Não faltaram também as manifestações cerimoniais de proteção da casa e da luta indígena, como a realizada por um grupo de chasquis que caminhou pelo país desde o dia 29 de dezembro. Eles entregaram oferendas ao presidente da CONAIE e desejaram os melhores augúrios ao seu Conselho de Governo. Foi um momento de profunda emoção.

Durante o desenrolar do encontro e das manifestações foi divulgado que a ministra do Interior, Betty Tola, havia suspendido o desalojo e que iria analisar o recurso interposto pela entidade. Segundo ela, nova decisão deverá sair em dois meses.

O informe saído do ministério do interior foi saudado como um importante ganho ocasionado pela intensa mobilização. Ao se encerrar a assembleia, a resolução final foi a decisão de permanecer na sede da entidade e começar a partir daquele momento mais uma processo de fortalecimento das entidades de base, que sustentam esse gigante que é a CONAIE. O objetivo é manter toda a gente em movimento durante esse dois meses nos quais o governo deverá discutir o recurso.

Depois de encerrada a assembleia, em meio a cerimônias e cantorias, os delegados e apoiadores realizaram uma caminhada pelas ruas de Quito até o Palácio da República, mostrando que as nacionalidades indígenas do Equador está de pé, em luta e não desistirão de manter sua sede histórica.  

Foi mais um dia de batalha pela consolidação daquilo que está na Constituição, mas que segue sendo esquecido pelo mandatário equatoriano: a plurinacionalidade e o bem viver. Nos cartazes e nas falas dos indígenas, a consigna que deverá seguir ecoando pelos meses afora que se configurarão em novas lutas: "Por nossa história, por nossa luta, da nossa casa, ninguém nos tira".


Com informações da CONAIE Comunicación.

segunda-feira, 5 de janeiro de 2015

A vala de Melilla



É sempre muito comum a alusão à queda do Muro de Berlin, como um episódio chave para a fim do chamado "regime comunista". Sua derrubada foi saudada como um símbolo da liberdade de ir e vir das pessoas, já que os alemães que viviam na parte oriental não podiam atravessá-lo. Mas, se a sua queda abriu caminhos aos alemães orientais outros muros seguiram se erguendo, impedindo o movimento das pessoas, em pleno sistema da "liberdade", como é saudado o capitalismo. A "terra das oportunidades s" tem, igualmente, seus impedimentos aos seres humanos. E quem grita contra isso? Quem se insurge? Poucos. Os velhos ativistas dos direitos humanos. Os que entendem que nem o comunismo, nem o capitalismo podem levantar muros às gentes.

Ainda assim, vimos surgir na Palestina ocupada o aviltante muro que separa famílias, que oprime pessoas, que torna os palestinos prisioneiros em sua própria terra. Quilômetros e quilômetros de barreira, oito metros de alturas, revistas vexatórias, violências. E, na mídia comercial, muito pouco se fala das vidas ceifadas em nome do abjeto "direito" que Israel se deu de impedir as pessoas de circular por seu território.

Também no México, cresceu e se consolidou o muro que separa o país dos Estados Unidos. De lá para o México, os estadunidenses podem passar tranquilos. Já do México para os EUA, nem pensar. E as gentes se arriscam no muro, morrendo como moscas, impedidos de participar do grande banquete do capitalismo da liberdade, alardeado pelos estadunidenses. Uma liberdade que só vale para quem eles querem. Os pobres que ousam também sentar à mesa da fartura capitalista, esses são impedidos com balas e cães. 

Outra barreira pouco conhecida é a chamada "Vala de Melilla", uma cerca gigante que separa Melilla, uma cidade autônoma, mas de domínio espanhol, que fica em território africano, às margens do Mediterrâneo, fronteira com o Marrocos. Passar a linha de fronteira desde ali é estar com o pé na Europa, por isso foram criados os mecanismos para impedir o fluxo de imigrantes. Assim, a vala começou a ser construída em 1998, completamente invisível para as mídias comerciais. Era apenas uma vala que foi se aprofundando até virar um imenso fosso de três metros de altura. No ano de 2005, ficou mais funda, com seis metros e nela ainda foi fincada uma cerca tridimensional, em 2007, com três metros de altura. Tem 12 quilômetros e é vigiada por tropas policiais. Seu singelo objetivo é impedir a entrada de negros na Europa.

Apesar de sua tecnologia apurada - tem malhas metálicas que impedem a escalada, sensores de movimentos e câmaras automáticas - dezenas de pessoas se arriscam todos os dias, enfrentando a morte, a prisão e a mutilação, para vivenciar a passagem até o mundo das "oportunidades". Mas, os negros pobres não têm vez. A eles, o caminho está fechado.

E assim vai seguindo esse planeta, cada dia mais fechado para os que nada têm, enquanto os que vivem na opulência se calam, cheios de medo de serem "assaltados" pelas hordas dos desgraçados. O fato é que de todos aqueles que tentam ultrapassar as barreiras da "liberdade", a maioria morre ou é capturada. Ainda assim, alguns conseguem, em 2014 foram mais de dois mil... E estão por aí, no mundo dos opulentos, tentando encontrar o caminho para a vida digna.