sábado, 7 de janeiro de 2012

Um mico



Dia desses tive uma visita inesperada. Trabalhava, absorvida, quando alguma coisa bem peluda pulou na impressora que fica à minha direita, na mesa. Por um instante não liguei, pensei que pudesse ser um gato. Mas, depois, vi que não estava em casa e sim no segundo andar da UFSC. Não seria um gato. Então, saí da onda do trabalho e olhei. Ali estava, me olhando com olhos curiosos, um pequeno macaco. Não sei porque cargas d´água ele achou de entrar na minha janela. Nunca o havia visto.

Ficamos assim, nos mirando. Eu com medo de assustá-lo, ele talvez com o mesmo sentimento. Talvez por isso tenha permanecido parado, observando qual seria a daquela humana. Comecei a falar com ele em língua de mico, e ele se agitou. Quis tocá-lo, ele reagiu, indignado. Então deixei que ficasse à vontade no beiral da janela. Foi um momento mágico, de deliciosa companhia. Depois de se deixar ficar e algumas macaquices, ele deu um salto para o abismo. Caiu tranquilo na ramagem da árvore e sumiu por entre os galhos.

Na tarde quente desse janeiro doido eu fiquei numa alegria só. Quando toda a UFSC silenciava de seu fazer frenético, eu recebera aquela visita insólita. Só podia ser alguma coisa mágica. Esses são aqueles momentos impagáveis.


sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

O assassino de Victor Jara

No Chile, esse mesmo país cujo governo está propondo retirar dos livros de história a palavra ditadura, há uma gente que não esquece o que aconteceu nos tristes anos de Pinochet. Eles descobrem os assassinos e os torturadores e vão até suas casas ou trabalho denunciar aos vizinhos e colegas as ações praticadas. Esse movimento de gente e denúncia é chamado de 'funa" e está eivado de gente jovem, o que mostra a força de um povo que não aceita que se coloque por baixo do tapete a história de horror que o país viveu. No vídeo abaixo vocês podem ver uma dessas funas dentro do Ministério do Trabalho chileno, onde trabalhava tranquilamente Edwin Dimter Bianchi, apelidado de "o príncipe", o homem que torturou e assassinou o grande cantautor Victor Jara. A morte do artista ocorreu em 15 de setembro de 1973. Segundo os documentos ele foi alvejado com 44 tiros e suas mãos foram decepadas.

Para a barbárie e para os assassinos nunca chegará o esquecimento. Victor Jara, presente!


quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

De Joanesburgo.. a vida popular...

Pata Pata é uma canção da bela Miriam Makeba, cantora, compositora e ativista sul-africana contra o apartheid que, mais tarde acabou ministra de Nelson Mandela. Nesse vídeo ela apresenta a música que é uma tradição em Joanesburgo e que virou uma febre no final dos anos 60. A pata pata é dançada pelas gentes nos caminhos dessa parte da Àfrica. Pura beleza...

Esquadrões da morte: a escola francesa


No documentário produzido por Marie-Monique Robin está explícito como eram as torturas praticadas contra os lutadores latino-americanos durante as ditaduras. No vídeo, militares franceses, estadunidenses e latino-americanos confirmam o uso das técnicas inventadas na Argélia, para dar combate ao “comunismo”. Sem qualquer prurido eles contam como era a escola do extermínio.


Encontrando Cruz e Sousa



























Andando pela cidade no final do ano, assim, distraída, como se fora turista, encontrei, no meio da praça algo que nunca havia reparado. A estátua de Cruz e Sousa. Nosso grande poeta simbolista, que tanta beleza criou.

Negro, pagou o preço de viver numa sociedade racista. Filho de negros alforriados ele recebeu educação formal, como se fosse um filho daquele que era seu antigo "dono". Mesmo assim, apesar de culto, foi recusado para o cargo de promotor na cidade de Laguna, pelo simples fato de ser negro. Lutador, ele não se entregou, atuou em jornais em Santa Catarina, escreveu, combateu o racismo, o preconceito. Viveu intensamente, amou loucamente, sofreu desesperadamente. Viveu no Rio de Janeiro onde trabalhou na Estrada de Ferro.


Enquanto penava por preconceito e também por amor, escreveu seus livros, obras de rara beleza.Amava por demais sua sensível Gavita, que enlouqueceu por ver seus filhos morrerem de tuberculose. Depois da morte dela, também Cruz e Sousa morreu um pouco e, lentamente, foi vencido pela doença, a mesma que matou seus filhos. Definhou num lugarejo do interior de Minas Gerais, para onde tinha ido se tratar. Morto, foi transportado num vagão de cavalos para o Rio de Janeiro. Um triste fim para aquele que, mais tarde, veio a ser considerado o maior poeta simbolista do mundo.Ao vê-lo assim, no meio da praça, me enchi de ternura. Porque é ele quem me ensina todos os dias que é preciso ter ódio, ódio são, contra os vilões do amor.

Seu corpo, casca física, pode ter sido profanado com o descaso e o trato indigno. Mas, sua poesia, essência dessa vida bela, segue viva, pulsante, nos empurrando para frente. Abraçada a ele, no meio da praça cinzenta pela chuva, eu agradeci. Valeu poeta, tu vives, abençoado cavador de infinitos!!!


Cavador de Infinitos

Com a lâmpada do Sonho desce aflito
e sobe aos mundos mais imponderáveis,
vai abafando as queixas implacáveis,
da alma o profundo e soluçado grito.

Ânsias, Desejos, tudo a fogo escrito

sente, em redor, nos astros inefáveis.
Cava nas fundas eras insondáveis
o cavador do trágico Infinito.

E quanto mais pelo Infinito cava
mais o Infinito se transforma em lava
e o cavador se perde nas distâncias...

Alto levanta a lâmpada do Sonho,
e com seu vulto pálido e tristonho
cava os abismos das eternas ânsias!