sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Serenata para Fidel

A fala



A música

No olho da serpente

Por Raul Fitipaldi.

Uma semana atrás, não mediaram 24 h para que presenciasse, ambas as vezes num trajeto do ônibus, duas manifestações xenófobas em Florianópolis. Uma partiu duma estudante de pedagogia da UDESC e outra, de um estudante da UFSC. A primeira, ao findar a tarde da quarta-feira, a segunda, pela manhã da quinta.

Na primeira, um senhor próximo aos 60 anos conversava com outros passageiros sobre a má qualidade do transporte coletivo de passageiros, como, de resto, o fazem cada vez mais e mais pessoas. A agressora verbal, futura pedagoga, empreendeu a lhe dizer que devia se cuidar do lugar onde protestava, que ônibus não era um lugar adequado para “falar da má qualidade do serviço”. Que se não gostavafosse embora para o interior, de onde parecia vir pelo sotaque, o cidadão que expressava sua opinião. A “democrática” futura educadora acrescentou à sua prosápia, que o queixoso devia entender que aqui é uma cidade desenvolvida, moderna, urbana, não uma Desterro Imobilizada, como ele parecia achar. Isto aconteceu no trajeto Rio Vermelho Bairro.

Na quinta-feira, outro cidadão, desta vez de sotaque espanhol, explicou-lhe a um jovem que não conseguia se mexer de lugar, porque precisava estar bem assegurado, já que ia de pé e tinha graves problemas de coluna, então não conseguia atingir o cano de cima indo mais para adiante no ônibus. O estudante lhe espetou: “Se não viaja cômodo volte para seu país. Você está incomodando aos que querem passar adiante. Vá embora, em vez de incomodar”. Como no caso anterior, ninguém mexeu um músculo e tudo mundo se fez de surdo.

O próximo caso que compartirei me teve como interlocutor, além de observador. Uma estudante viajava do meu lado no Canasvieiras-Mauro Ramos. A garota, depois que um par de cidadãos de sotaque nordestino fez demorar a marcha do ônibus, porque tinha uma considerável série de pacotes que descer, deixou notar um gesto de desconforto pela presença desses jovens. A tal senhorita, de 18 anos, com a qual eu vinha conversando sobre vocações e vestibulares, me questiona: “Você já viu como tem nordestinos agora? Tem muita gente da Bahia, do Espírito Santo; é que aqui estamos muito bem, vêem trabalhar, não sei como vai ficar isto, viu? Esta era uma cidade tranqüila entre a gente, né?”

Três atos de xenofobia distintos, num lapso brevíssimo, cometidos por estudantes, dois universitários e uma aluna de cursinhos. Estes fatos acontecem nos tempos da Tropa de Choque, das Universidades “Públicas” a caminho da privatização e da Merenda Escolar Terceirizada. Provavelmente, o eurocentrismo conservador que prevalece em algum setor da sociedade, gere reações inaceitáveis. Porém, talvez sejam interpretáveis essas tristes atitudes num ambiente político-social onde a falta de empregos estáveis, de ensino de qualidade e duma visão de mundo nada além do consumo, culturalmente recortada, comece a despertar a serpente, que na velha Europa revive, pela falta de oportunidades e empregos, como uma nova versão do clássico de Ingmar Bergman, Das Schlangenei. Observemos uma síntese daquele filme, vejamos as coincidências com os tempos atuais do Velho Continente, e fiquemos em alerta. Não deixemos que a serpente alimente seu ovo. Ela sempre está de olho nos pobres. E observemos com moderação nossa atual bonança econômica, esqueçamos por um momento a facilidade de crédito, e reflitamos que Florianópolis não está fora do mundo, e que essa Europa que nos dão como referência na universidade, passa pela crise mais severa dos últimos 90 anos. Que tal se não a imitamos?

O filme citado: O Ovo da Serpente.

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Título original: (Das Schlangenei)

Lançamento: 1977 (EUA, Alemanha Ocidental)

Direção: Ingmar Bergman

Atores: David Carradine, Liv Ullmann, Heinz Bennent, Gert Fröbe.

Duração: 120 min

Gênero: Drama

Sinopse

Berlim, novembro de 1923. Abel Rosenberg (David Carradine) é um trapezista judeu desempregado, que descobriu recentemente que seu irmão, Max, se suicidou. Logo ele encontra Manuela (Liv Ullmann), sua cunhada. Juntos eles sobrevivem com dificuldade à violenta recessão econômica pela qual o país passa. Sem compreender as transformações políticas em andamento, eles aceitam trabalhar em uma clínica clandestina que realiza experiências em seres humanos.

quinta-feira, 18 de agosto de 2011

A beleza na gaveta


Os índios navajos têm um dizer que é a essência de suas existências: “viver é caminhar na beleza”. Coisa profunda, mas difícil demais de tornar concreta na vida cheia de sombras que é a que temos nesse mundo de tantas desgraças cotidianas. Conheço um homem que, vivendo em uma pequena cidade no norte do país, decidiu se esconder dentro dele. Nunca entendi bem por que ele escolheu esse caminho. Quando era ainda um menino lia Lord Byron e se encantava com as palavras do poeta, gostava de filosofia e sabia muito sobre literatura. Um dia, do nada, se isolou do mundo. Ele está em corpo, mas não em alma.

Esse homem que decidiu abraçar a solidão dorme de dia e vive de noite. Mas a vida que vive não é como a nossa, de pequenas misérias cotidianas. Ele fica em casa, frente ao computador, jogando vídeo game ou RPG. É uma espécie de avatar de si mesmo. Nas intricadas histórias de vampiros, magos e mistérios ele vai caminhando cada dia mais para dentro dele. E nós, que o amamos, vamos ficando cada vez mais sem condições de alcançá-lo.

Até bem pouco tempo eu pensei que, sendo assim, tão fechado em si, tão pouco afeito ao encontro humano, tão solitário, tão caramujo, tão ensimesmado, já não tivesse mais espaço para a beleza. Escapulindo no seu mundo paralelo, ele é quase intocável.

Dia desses eu fui vê-lo, buscando uma brecha para seu coração. Estive ao seu lado por dias, sem conseguir entrar. Então, sem aviso prévio, fui remexer em uma de suas gavetas. Tal foi o meu espanto. Dentro dela estavam dezenas, centenas, creio, de pequenos origamis, essa arte japonesa que vai dobrando o papel e transformando aquilo em beleza. Aquele homem lindo, que buscou o caminho da solidão, está cheio de beleza. Uma beleza que ninguém vê, escondida na gaveta. Com suas mãos magricelas ele vai construindo um mundo inteiro de maravilhas, tão delicadas, só possíveis de serem criadas por alguém que seja repleto de profunda formosura.

Foi então que descobri que, tal como dizia seu poeta favorito, o Lord Byron, “fugir dos homens não é o mesmo que odiá-los”. Meu adorado amigo está dentro de si, sabe-se lá porque, mas, não tenho dúvidas: ele mesmo, quando quiser, vai encontrar a porta de saída. Porque tal qual os navajos, ele já vive na beleza. Quem dera pudéssemos aprender...

quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Primavera na UFSC

Estudantes e trabalhadores transformam a manhã de inverno em pura primavera.


segunda-feira, 15 de agosto de 2011

A greve nas federais

Os trabalhadores das universidades federais em greve já há mais de 70 dias esperam que nessa semana que se inicia o governo de Dilma Roussef reconsidere sua posição autoritária e chame uma negociação. Desde o dia 06 de junho que a base da Fasubra (Federação dos trabalhadores), composta por mais de 170 mil trabalhadores deflagrou um movimento paredista por não compactuar mais com a política de enrolação que vinha sendo praticada desde 2007. Sem qualquer proposta para suas demandas, os trabalhadores das universidades cruzaram os braços, exigindo do governo uma posição. Mas, até agora, nem mesmo um aceno foi feito.

Na semana que passou Brasília foi palco de um grande acampamento dos trabalhadores das universidades. Mais de mil pessoas, de todos os estados do país, empreenderam uma jornada de três dias inteiros de luta, conversa e barulho. Todos os dias, os trabalhadores circularam pela frente dos ministérios da Educação e do Planejamento, fizeram visita aos deputados, caminhadas, protestos. O que eles queriam era unicamente a possibilidade de sentar e negociar algum avanço nas suas reivindicações.

Os trabalhadores entraram em greve porque parte dos acordos da greve de 2007 jamais foi cumprido, tampouco há qualquer proposta de reajuste salarial e ainda tramita no Congresso um projeto que congela os salários por 10 anos. O ministro do Planejamento tem dado entrevistas na imprensa comercial dizendo que a crise que se instalou no mundo com os problemas financeiros dos Estados Unidos têm repercutido aqui e por isso não há possibilidades de reajustes salariais do funcionalismo. Uma desculpa muito esfarrapada para um homem tão inteligente. O Brasil sangra do seu orçamento, a cada mês, 45% só para pagamento de juros da dívida pública. Não bastasse isso empresta bilhões a empresários para que salvem suas empresas privadas, como foi o caso de Abílio Diniz que levou 4 bilhões par a fusão de sua empresa com um mercado francês. Então, como não há dinheiro para os trabalhadores?

Os trabalhadores da UFSC que estiveram em Brasília avaliaram o acampamento como um momento muito bom para fortalecer a greve. Responsáveis pela Banda Parei, que deu o tom durante os atos públicos e caminhadas, eles chegaram cheios de vontade de manter o movimento e garantir a vitória. A decisão da Justiça em expedir uma liminar para que 50% dos trabalhadores voltassem ao trabalho, afiançando um atendimento mínimo, está sendo cumprida e não há no horizonte qualquer vislumbre de que seja julgada a ilegalidade da greve.

A caravana em Brasília conseguiu uma reunião com o Ministro da Educação que prometeu intermediar um encontro com o povo do Planejamento que é, na verdade, quem toma as decisões. Agora é esperar e ver se o governo federal vai mesmo permitir que o semestre letivo comece sem restaurante, sem livros, sem trabalhadores. Mas, nas universidades, ninguém pensa em esmorecer.



domingo, 14 de agosto de 2011

Uma universidade em Blumenau

O homem estava parado na porta de um singelo bar. Tinha um prato de carne na mão e se preparava para comer. Foi quando viu a multidão que vinha pelo lado esquerdo da rua. Eram milhares os que vinham pela rua afora, coisa difícil de se ver na conservadora Blumenau. A maioria era formada por jovens, mas também se podia ver velhos militantes sociais, sindicalistas e até políticos. Aquela não era uma passeata qualquer. Ela servia para unificar pessoas de todos os matizes num único grito: a universidade de Blumenau agora tinha de ser federal.

A marcha aconteceu depois do anúncio feito pela presidente Dilma Roussef de que haveria uma universidade federal em Blumenau. E esse é um sonho antigo das gentes do lugar. Tanto que desde há anos professores, técnicos-administrativos e estudantes lutam para tornar a tradicional FURB uma federal. Ela nasceu em 1964, com a Faculdade de Ciências Econômicas, cresceu em 1967, com mais algumas faculdades, mas só teve o estatuto de universidade em 1986, sendo a primeira no interior do Estado. A proposta, já lançada há anos, era de que ela fosse encampada pelo sistema federal, uma vez que já é uma universidade consolidada e, por ser pública municipal, segue todos os trâmites de uma instituição pública, se diferenciando das demais universidades privadas do Sistema Acafe.

Durante anos os estudantes , professores e técnicos-adminsitrativos se mobilizaram, fizeram campanhas, encaminharam documentos. Porque a FURB hoje ainda precisa cobrar mensalidades para se manter, já que o município não dá conta de assumir todos os custos. E, para os filhos do vale catarinense onde fica Blumenau, uma federal é um sonho há muito acalentado. Cidade tipicamente industrial, centro das empresas têxteis, Blumenau é um celeiro de jovens sedentos por conhecimento. Mas, muitos deles ficam pelo caminho, porque não podem pagar as mensalidades, nem conseguem se manter na capital. Por isso a federalização era uma esperança concreta. Isso acontecendo, centenas de jovens poderiam ingressar numa faculdade de qualidade, padrão FURB. Ali, tudo está pronto, são décadas de trabalho. Bastaria incorporar os prédios, os laboratórios, os professores, os trabalhadores e seguir a vida. Mas haveria uma abissal diferença: a gurizada não precisaria mais pagar os altos valores das mensalidades.

Por isso o anúncio de Dilma caiu como um raio em Blumenau. E por isso todos foram ás ruas para lembrar dessa luta, dessa espera, desse desejo.

O homem parado no bar tem uma filha adolescente. Ela quer ser médica. Ele é vendedor numa loja de ferramentas. Nunca teria condições. “Mas, agora, se a FURB virar federal, ela pode”, dizia, animado, enquanto saía pela passeata adentro, distribuindo carne aos estudantes que cantavam palavras de ordem. Havia uma vibração única naquela multidão. Uma coisa bonita de se ver. Dois estudantes, de braços dados, não acreditaram quando olharam para o lado e viram, em mangas de camisa, o próprio reitor da FURB, João Natel.

- É ele mesmo?

- Claro que é. Ele sempre esteve com a gente!

E lá se foram todos, aos gritos, esperando a boa nova.

Mas, no fim da tarde veio a decepção. A notícia dada pela imprensa era de que o que iria ser feito era a criação de um braço da Universidade Federal de Santa Catarina, a UFSC. Decepção total. Uma extensão do campus da UFSC exigiria tempo demais, compra de terreno, construção de prédios, contratações novas. Tudo isso iria demorar demais e, além do mais, não ofereceria todos os cursos que já existem na FURB. Ia por água abaixo o sonho da filha do ferramenteiro de ser médica. Baixou um longo silêncio na noite de Blumenau.

Reuniões foram feitas com o povo do PT. Seria possível que os políticos locais não tivessem informado à presidente do sonho das gentes de Blumenau? Seria possível que a ministra Ideli Salvatti não soubesse? Seria possível que a presidente fosse tão insensível aos desejos daquela louca juventude? Ela havia estado ali há pouco tempo e fora informada disso.

O agora deputado Décio Lima, ex-prefeito de Blumenau, e do partido da presidente, colocou uma trava, via imprensa: “Se a FURB for federalizada pode abrir um precedente. O governo não poderá absorver todas”. Esse é um fato. Mas, alegam os estudantes, a FURB é a única que tem feito uma luta incessante desde há anos para a federalização. Os estudantes de Blumenau merecem isso. Têm sido incansáveis nessa batalha, ano após ano. Isso teria de ser levado em conta.

Não obstante a sentença do deputado parece ainda fazer eco na cidade. O silêncio perdura. O reitor João Natel deverá se reunir com o ministro da Educação em Brasília na próxima terça feira. Vai tentar mais uma cartada. Leva as esperanças dos jovens, essa multidão que saiu às ruas. Resta a pergunta: a presidente ouvirá?

Enquanto isso, na mídia estadual o que se fala é o seguinte: com a federalização da FURB ou expansão da UFSC – não importa - haverá um crescimento muito grande no setor imobiliário em Blumenau. Que coisa, heim? Enquanto as raposas capitalistas esfregam as mãos, a juventude de Blumenau espera que seja feito o melhor.

Os conflitos em Londres

Os repórteres conservadores, e o sociólogo que botou todos eles no bolso. Parabéns!!!

Sou fã desse cara!!!

Jornada de Lutas da Via Campesina

A luta dos trabalhadores e trabalhadoras é permanente e a atual conjuntura exige união. Nós da Via Campesina estaremos em Jornada de Luta do dia 22 a 26 de agosto em todas as capitais e com Acampamento Nacional em Brasília.

A jornada é direcionada para os temas e problemas do campo, centrando na denúncia do modelo agrícola do agronegócio, que gera concentração de terra e renda, assim como intensifica a devastação das florestas e assassina os lutadores e lutadoras do povo. E de anúncio da proposta de projeto popular camponês para a agricultura brasileira, que envolve a Reforma Agrária, com distribuição de terra e de renda, incentivos à agricultura familiar e camponesa e a produção de alimentos saudáveis sem agrotóxicos, na perspectiva de termos conquistas e avanços reais nas nossas reivindicações. De fundo também pautaremos a discussão do Projeto Popular para o Brasil.

Aqui em Santa Catarina estaremos realizando atividades em Florianópolis e Chapecó nos dias 23, 24 e 25 de agosto, é importante a participação de todas as categorias nessa Jornada. No dia 23 (terça-feira) a mobilização será em frente à Receita Federal onde reivindicaremos recursos financeiros para a agricultura familiar e camponesa brasileira, conforme pauta antiga; no dia 24 (quarta-feira) estaremos na secretaria de agricultura do Estado também pressionando para que seja atendida nossa pauta referente às políticas Estaduais; e no dia 25 (quinta-feira)faremos uma Exposição dos Produtos da Reforma Agrária no centro de Florianópolis e um grande Ato Público em conjunto com todas as categorias de trabalhadores reivindicando melhores condições de trabalho, valorizações dos trabalhadores públicos, pela educação pública, pela saúde pública, por segurança, contra a privatização dos serviços públicos e as OSs. Ou seja, por um Projeto Popular para o Brasil que de conta de resolver os problemas da classe trabalhadora.

Esperamos encontrá-los nessa grande jornada de lutas.

Movimento Sem Terra de Santa Catarina
REFORMA AGRÁRIA: POR JUSTIÇA SOCIAL E SOBERANIA POPULAR