terça-feira, 17 de agosto de 2010

Penna Filho: um homem do cinema



A figura do diretor de cinema geralmente vem associada a alguém excêntrico, vaidoso ou temperamental. Penna Filho não tem nada a ver com esse estereótipo. Ele é tranqüilo, doce e cheio de ternura. Aos 77 anos está em plena atividade, lançando seu mais recente filme “Doce de Coco”, vencedor do Prêmio Cinemateca Catarinense e que cumpre uma linda jornada pelo interior deste estado, apesar de ser olimpicamente ignorado pela mídia comercial. Penna Filho vive em Florianópolis e, dia desses, esteve na Rádio Comunitária Campeche falando do seu filme e de sua trajetória de homem da palavra e da imagem.

Penna Filho nasceu capixaba em março de 1936, mas se fez do mundo quando decidiu mudar para São Paulo em 1959, para fazer cumprir seu destino de “contador de histórias”. Ainda em Vitória ele, quase um menino, iniciou sua carreira de locutor, ator, repórter, produtor e diretor artístico. O guri magrinho era um dínamo e sua voz serena prenunciava a delicadeza das narrativas que ele construiria ao longo da vida.

Na capital paulistana ele dava os primeiros passos junto com a televisão, crescendo e aprendendo com esta nova forma de comunicação que iria revolucionar a vida humana. Seguia no rádio, mas a imagem já começava a mexer com sua cabeça criadora. O golpe militar o tira do circuito da rádio comercial, porque um texto seu sobre o fato, censurado na Rádio Bandeirante, o faz ser demitido. Impedido de dizer a palavra libertadora ele mergulha no cinema. A tela grande o chama e ele passa a trabalhar como continuísta e assistente de direção em filmes de gente como Ody Fraga, Ary Fernandes, Milton Amaral, Carlos Coimbra e Mazzaroppi, de quem guarda boas lembranças. Paralelo a isso atua em dublagens de filmes para televisão, como ator e diretor. No início dos anos 70 ele já era um dos profissionais mais incensados pelo povo do cinema e da televisão, onde voltou a atuar na área da propaganda.

No início dos anos 70 chegava a hora de Penna Filho dirigir seu próprio filme, e foi quando nasceu “Amores de um cafona”, feito em parceira com Osires Figeroa. Mas, o seu solo foi “O diabo tem mil chifres”, que a censura militar considerou imoral e iconoclasta. Esse filme não pode ser visto por ninguém até o final dos anos 70 e marcou a vida de Penna Filho como um período em que faltaram as possibilidades de trabalho. Por conta disso ele regressou à televisão para fazer reportagens, atuando em programas como o Fantástico e o Globo Repórter, na Globo.

Em 1977 entra para a TV Cultura de São Paulo e ali consegue produzir documentários e programas que, inclusive, são premiados. Foi um tempo de muita criação, no qual também dirigiu alguns especiais. É só nos anos 90 que ele volta para os 35 milímetros, com o filme Naturezas Mortas, ganhador de vários prêmios também. Em 2006 realiza um longa sobre a vida do jogador de futebol Ademir da Guia, “Um craque chamado Divino” e em 2009 finaliza outro longa, o “Doce de Coco”.

Esta curta descrição da vida profissional de Penna Filho certamente não lhe faz justiça, mas já dá uma idéia do potencial criativo deste homem que segue enfrentando a máquina trituradora do circuito comercial de cinema, que conta hoje com apenas 2.200 salas em todo o país, menos da metade do número de municípios, embora o governo federal alegue que são mais de seis mil. Isso já deixa claro o quanto o cinema está em baixa no país e o quanto não há incentivo para este tipo de espaço cultural. No mais das vezes, as grandes cidades só têm salas nos centros comerciais (xopins) e a mágica do cinema não existe mais. E, no interior, já se pode falar de uma geração que nunca viu um filme em tela grande. Além disso, as salas que existem são praticamente prisioneiras da indústria estadunidense, com mais de 2/3 delas nas mãos de duas ou três megaempresas, dificultando a caminhada de produções cinematográficas que não estejam vinculadas ao sistema. Não bastassem todas estas dificuldades, a Globo ainda abocanha grande parte das produções nacionais, sendo subsidiária de uma empresa estadunidense. Por isso abundam os filmes “engraçadinhos” com atores globais. Tudo faz parte do mesmo esquemão. “A gente observa que estas produções são feitas só para o povo rir. Eu não, quero filmar para o povo rir e refletir”, diz Penna Filho.

Sua mais nova produção é assim. Doce de Coco é um filme que conta da vida da gente brasileira, o povo simples que batalha para sobreviver, mas que também é engraçado, sonha e faz planos para sair do sufoco da vida massacrante. Trabalho difícil de realizar por conta dos poucos recursos e tudo o que envolve fazer cinema na “periferia” do país, como é o caso de Santa Catarina. Mas, que, a despeito de tudo isso, o filme, rodado no Ribeirão da Ilha (patrimônio cultural de Florianópolis), se completou e seguiu seu caminho, sendo apresentado por todo o estado de Santa Catarina no projeto “Cinema para o povo sem tela”.

Penna Filho acredita piamente que o audiovisual no Brasil poderia ser auto-sustentável, mas para isso haveria que ter uma política pública real, que garantisse igualdade de condições aos profissionais. Hoje, da forma como está colocada a Lei Rouanet fica muito difícil. Os artistas precisam fazer romarias às empresas que, muitas vezes, não tem interesse em realizar os trâmites. “Agora tem uma proposta de mudança aí, em que as empresas terão de dar em dinheiro vivo de 10 a 30% dos recursos. Pode ser que dê mais certo”. Fora os editais públicos ou os trâmites da Lei Rouanet os cineastas independentes ficam em péssima situação. Aqueles que não se vendem ao esquema Global - que é subsidiário de grandes empresas estadunidenses - têm que penar muito para realizar um trabalho. Porque fazer cinema é coisa grandiosa, envolve muita gente, figurinos, cenários e tantos outros detalhes que demandam dinheiro.

Agora, tramita no Senado Federal uma medida provisória (a 491/210), do governo federal que, entre outras coisas, apresenta o projeto “Cinema perto de você”, uma proposta de criar salas de cinema nas cidades pequenas e nos bairros de periferia das grandes cidades. A idéia em si até é interessante, mas se não tocar na questão da distribuição dos filmes – sempre na mão estrangeira - e não garantir espaço digno ao cinema nacional será só mais uma sala a projetar o lixo ideológico estadunidense. A medida também avança para o estabelecimento de linhas de crédito, via BNDES, e com facilidades tributárias para as empresas que investirem no cinema. Mas, também isso não garante uma mirada mais autóctone para a cinematografia.

Apesar destas propostas pontuais, no Brasil há muito pouca compreensão de que o cinema deveria ser espaço de contação das histórias locais, dos personagens nacionais, dos fatos históricos, dos mitos, da realidade tupiniquim. Tirando alguns momentos, muito pontuais, o cinema nacional é mera reprodução do jeito de fazer estadunidense. Basta uma olhada no megassucesso Se eu fosse Você, com Glória Pires e Tony Ramos, que chegou a ter um segundo “capítulo”. Nada mais é do que a reprodução – mal feita – das batidas comédias românticas do cinema estadunidense. Colonialismo mental e cultural que vai se reproduzindo feito praga. E, nesse diapasão, a vida que vive neste imenso país encontra muito pouco espaço para ser narrada. Até porque o Brasil não é só São Paulo e Rio de Janeiro. Por isso, o catarinense Doce de Coco, dirigido por Penna Filho, filmado no interior da ilha, tem de ir rompendo as barreiras, punho em riste, como os próprios personagens, que precisam apostar num grande sonho para poderem se mover adiante. O sonho do Penna Filho, ele não disse, mas pude demandar no seu olhar misturado de ternura e força, que é o de ver, cada vez mais, o Brasil na tela grande. O Brasil de verdade, destes cantões, as gentes reais, se dizendo na beleza e na luta.

Já a política, bem, esta é outra seara, tão difícil de ser desbravado quanto fazer uma produção que seja independente do sistema internacional. Sem a ação coletiva e crítica da classe artística, as proposições governamentais continuarão a ser pontuais e sem conexão com uma proposta verdadeiramente nacional.

A filmografia completa e outras informações sobre Penna Filho podem ser encontradas no sítio: http://www.pennafilho.com/

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Mosquito zoando com a cabeça dos poderosos


Sexta-feira, dia 13, o Amilton Alexandre, mais conhecido como Mosquito, colocou na rua o seu Tijoladas Press, a revista que traz os melhores textos do famossíssimo blog Tijoladas do Mosquito e outros textos inéditos. A idéia é colocar os podres da politicagem da região na rua, para que a população saiba aquilo que não sai na TV nem nos jornais. Parabéns Mosquito e longa vida!...