sábado, 26 de setembro de 2009

Jornalistas falam ao povo de Honduras

Veja o vídeo

sexta-feira, 25 de setembro de 2009

Solidariedade com o povo de Honduras

25.09.2009 - Por MIRIAM SANTINI DE ABREU - A Esquina Democrática, no centro de Florianópolis, transformou-se, por pouco mais de duas horas, em lugar de resistência e de combate pela liberdade. Sexta de luta em mais uma Primavera Quente, nome da série de atividades que o Sindicato dos Jornalistas de Santa Catarina realiza em setembro. Entre 11h30 e 14h, o SJSC organizou um ato com abaixo-assinado em solidariedade ao povo hondurenho, que está em luta para restabelecer o governo constitucional de Manuel Zelaya. Foram recolhidas mais de 200 assinaturas, que serão enviadas a Radio Globo de Honduras, à embaixada brasileira em Honduras e ao gabinete do governo golpista.

Quem passou pelo local leu os cartazes que explicavam o que está acontecendo em Honduras e conseguiu sair mais informado, uma vez que os grandes meios de comunicação mais deturpam a notícia do que repassam informes confiáveis. As pessoas que assinaram o manifesto ainda receberam um panfleto com uma breve história sobre Honduras e a luta pela liberdade.

O ato recebeu o apoio de várias entidades do movimento sindical e popular da Capital. Vieram o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST), a Associação dos Docentes de Ensino Superior de SC, o pessoal do Sindicato do Judiciário Federal, dos Previdenciários, da Associação José Martí, do Portal Desacato, da Revista Pobres e Nojentas, jornalistas e estudantes de jornalismo, além de dirigentes do Sindicato dos Jornalistas. Todos se envolveram na distribuição de folhetos, na coleta de assinaturas e na conversa com a população.

A iniciativa do SJSC se deu diante dos fatos que se agravam em Honduras, com bloqueio de informações, retirada de sinal de rádios combativas, violência policial, assassinatos e desaparições, convoca todos os sindicatos e lutadores sociais para um ato em defesa do povo de Honduras, contra o cerceamento de informações, contra a violência e pelo retorno de Manuel Zelaya ao poder.

O ato mais uma vez teve o apoio estrutural do Sintrajusc, Sindicato dos Trabalhadores no Poder Judiciário Federal no Estado de Santa Catarina, que forneceu o equipamento de som, mesa e cavaletes.
Leia abaixo o texto do abaixo-assinado:

Nosostros, periodistas y moradores de la ciudad de Florianópolis, Santa Catarina, Brasil, firmamos esta petición en solidariedad al pueblo hondureño por su lucha para restablecer el gobierno constitucional de Manuela Zelaya. Repudiamos el golpe de Estado que tiene impuesto la violência, la censura a los medios, que asesina la gente en las calles, que apresa y desaparece militantes sociales. Exijimos que sean garantizados los derechos de la gente a libre manifestação, a la libre expresión, a la libre circulación. Hondura es una amada parte de nuestra Pátria Grande, y la vitória de la gente hondureña es la vitória de Nuestra América. Adelante pueblo. Fuera golpistas! Pátria o Muerte!

Ato por Honduras

Sindicato dos Jornalistas de Santa Catarina realiza hoje, na Esquina Democrática, das 11h30min às 14h, ato público em solidariedade ao povo hondurenho, com colheita de assinaturas.

FIRMA EN SOLIDARIEDAD CON EL PUEBLO DE HONDURAS, CONTRA EL GOLPE

Nosotros, periodistas y habitantes de la ciudad de Florianópolis, capital del Estado de Santa Catarina, Sur de Brasil, firmamos esta petición en solidaridad con el pueblo hondureño, por su lucha para restablecer el gobierno constitucional de José Manuel Zelaya Rosales. Repudiamos el golpe de Estado que ha impuesto la violencia, la censura a los medios de comunicación, que asesina a las personas en las calles, que detiene y desaparece a los militantes sociales. Exigimos que sean garantidos los derechos de la gente a la libre manifestación, a la libre expresión, a la libre circulación. Honduras es una amada parte de nuestra Patria Grande, y la victoria de la gente hondureña es la victoria de Nuestra América. Adelante pueblo. ¡Fuera golpistas! ¡Patria o Muerte!

Encaminado para Radio Globo de Honduras, Embajada de Brasil en Honduras y Gabinete del gobierno golpista.

terça-feira, 22 de setembro de 2009

Jornalismo de resistência


Nada é mais animador do que acompanhar a cobertura jornalística da Rádio Globo de Honduras nestes dias de golpe de estado. Primeiro porque a equipe chefiada por Don David Romero imediatamente tomou posição: contrária ao golpe. Claramente, sem vacilação. E depois, pela postura jornalística que esta mesma equipe tomou ao longo destes meses. Os jornalistas noticiam dia e noite tudo o que acontece no país. As mobilizações populares, as reuniões, os debates. Eles abrem o microfone para todas as vozes, mesmo as golpistas.

A rádio Globo e toda sua equipe está sendo nestes dias um ponto de apoio para toda a população. As pessoas confiam nos repórteres, ligam dos cantos mais remotos do país, passam informações, chamam seus companheiros para mobilizações. Usam a rádio como um espaço democrático e participativo de união e mobilização. E os jornalistas não se furtam a passar sua opinião sobre os atos dos golpistas.

Hoje, dia 22 de setembro, eram cinco horas da manhã quando o exército hondurenho chegou diante da embaixada brasileira e ali estavam os repórteres da Rádio Globo, relatando tudo. E mais, chamando o povo a sair de casa, a vir para a rua e se manifestar em apoio da legalidade constitucional, que é o retorno de Zelaya ao governo. Para quem vive num país onde a maioria dos jornalistas é cortesã do poder, este é um momento de pura emoção. Os jornalistas hondurenhos, pelo menos os da rádio Globo, estão do lado da maioria das gentes. Eles não ficam protegidos pelo exército golpista. Eles ficam no meio do povo, correndo os mesmos riscos.

Naquelas primeiras horas da manhã, as gentes que vivem longe da capital, congestionavam as linhas da rádio para passar informação. O país inteiro se expressa pelas ondas livres desta emissora que, apesar de privada e pertencer a um liberal, encontrou no seu corpo jornalístico o esteio onde amparar a realidade vista pelos olhos do povo.

Para nós, que somos informados pelo jornalismo entreguista e amorfo das grandes redes do Brasil, ouvir a Rádio Globo de Honduras é quase como sorver o néctar daquilo que devia ser o jornalismo em todos os lugares. Um fazer absolutamente encarnado na vida real, das maiorias, do povo. Um espaço de expressão de todas as vozes e não só de algumas. A equipe de jornalistas da Rádio Globo me enche de orgulho de ser o que sou: jornalista. Alguém comprometido e parcial. Porque não dá para ser neutro diante de um golpe ou diante da destruição da vida das gentes. Que vivam os jornalistas de Honduras, uma categoria que tem o amor e a confiança do povo. Coisa rara e por isso digna de nota.

www.radioglobohonduras.com.br

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

O Paraguai inventado

21.09.2009 - O professor Mauro César Silveira, do Curso de Jornalismo da UFSC, foi o conferencista na primeira atividade do Núcleo de Estudos da História da América Latina, coordenado por Waldir Rampinelli. Ele trouxe as informações sobre o estudo que fez das charges publicadas em jornais brasileiros durante o episódio da Guerra contra o Paraguai, de 1864 a 1870. Este trabalho acabou virando livro, esgotou, e agora deve ser reeditado pela editora da UFSC em 2010.

Mauro tem formação em jornalismo, mas fez mestrado e doutorado em História, porque entende que o jornalismo só pode expressar seu compromisso social se tiver perspectiva histórica. E a opção pela busca do desvelamento da idéia-imagem do Paraguai durante o período da guerra contra aquele país surgiu justamente para observar como o jornalismo considerado mais crítico da época desenhou o conflito. “Eu sempre acreditei que o jornalismo tem como papel central quebrar estereótipos, eliminar os preconceitos e esperava encontrar isso nas charges, porque sempre foi do humor, da caricatura, essa coisa de questionar o poder”.

Mas, ao pesquisar nas folhas satíricas mais importantes da corte Mauro ficou surpreso ao perceber que todas elas, mesmo as mais críticas, tinham a mesma idéia preconceituosa do Paraguai. E mais, ao logo da pesquisa, ele constatou que a maior tragédia do continente latino-americano, que massacrou um povo inteiro, tinha sido apresentada como a saga de um “sanguinário e cruel” dirigente: Francisco Solano Lopes. Isso sem contar no desrespeitoso e preconceituoso tratamento dado ao fato de que a maioria dos paraguaios era indígena.

Mauro levantou 591 imagens que se referiam ao Paraguai, 202 delas especificamente relacionadas com a questão do conflito. E, em todas estas, a referência a Solano Lopes era a de um inimigo sádico e sanguinário. “Solano aparecia sempre associado ao demônio ou a uma ave de rapina, e os desenhos ainda apresentavam o castigo que ele devia merecer: a morte. Ou seja, o jornalismo estava totalmente submetido à visão oficial de que a guerra era uma cruzada civilizatória para libertar os paraguaios de um louco”. O professor destaca a importância deste tipo de trabalho para compreender como o jornalismo ainda hoje faz esse jogo de servidão ao poder instituído. Lembrou da invasão do Iraque, evento tão contemporâneo, que foi referendado pela mídia com a mesma lógica de mentiras.

O fato é que esta imagem construída durante a guerra contra o Paraguai - que é conhecida como um tremendo genocídio uma vez que dos um milhão e trezentos mil habitantes do Paraguai, restaram pouco mais de 200 mil no final do conflito – até hoje povoa o imaginário social, fazendo do país de Solano Lopes sempre um “lugar ruim”. Mauro lembra que até no esporte, um espaço do jornalismo que aparece como neutro politicamente, esta imagem do Paraguai é bastante reforçada. “Agora pouco se falava que os times pequenos que disputam o campeonato brasileiro são como cavalos paraguaios, ou seja, pensam grande e morrem no meio do caminho. Isso é uma alusão à Solano Lopes que, segundo a mídia da época, foi quem declarou guerra ao Brasil, sem se dar conta que lutava contra um gigante e por isso foi derrotado. Ora, nada mais mentiroso. A guerra começou porque o Brasil invadiu o Uruguai e servia aos interesses dos latifundiários gaúchos e do império inglês. Solano Lopes apenas se defendeu.

Mauro também mostrou uma reportagem bem atual da revista Veja em que ela mostra os dez países que mais fazem falsificações. Nesta lista não estava o Paraguai, mas o título da matéria era: Made in Paraguai. Isso só reafirma a idéia-imagem de um lugar onde reina a pobreza, a feiúra, a corrupção e a falsificação. Tudo herança daqueles dias da guerra. “Até o Almanaque Abril, na sua edição deste ano, divulga informações incorretas sobre o conflito. Diz que Solano declarou guerra contra o Brasil porque queria chegar ao mar. Não fala da invasão do Uruguai, não fala que o Brasil nem exército tinha, montou um com escravos e pobres. Ou seja, a guerra contra o Paraguai segue criando preconceitos e mentiras”.

O trabalho de Mauro Silveira é uma instigante reflexão sobre o caráter cortesão do jornalismo atual que, tal qual nos dias da guerra contra o Paraguai, nada mais é do que um modelo de propaganda como bem já apontou o teórico estadunidense Noam Chomski. Basta que se observe como trata a Venezuela, Hugo Chávez ou o aymara Evo Morales. Exceções há que só confirmam a regra.